(Tempo de leitura: 5 minutos)
A cantora Lexa foi internada em estado grave após ser diagnosticada com pré-eclâmpsia precoce, uma forma rara e mais agressiva da condição que pode surgir ainda no segundo trimestre da gestação. O caso reacendeu o alerta sobre os riscos da doença, que pode levar a complicações graves tanto para a mãe quanto para o bebê.
A pré-eclâmpsia é uma complicação da gravidez caracterizada pelo aumento da pressão arterial e pode levar a graves riscos para a mãe e o bebê. O diagnóstico precoce e o acompanhamento adequado são importantes para evitar complicações na gestação. No entanto, a falta de informação e o acesso tardio ao atendimento adequado podem colocar a vida das mães em perigo.
No Brasil, a taxa de ocorrência varia entre 1,5% e 7%, segundo a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Embora a causa exata ainda não seja conhecida, fatores como hipertensão prévia, diabetes, doenças renais e autoimunes, além do uso da fertilização in vitro, aumentam as chances de desenvolvimento, de acordo com a Mayo Clinic.
“Não tinha informação nenhuma”

Ao Eufêmea, Pamella Ramyres, 30 anos, moradora de Araripina (PE) e trabalhadora doméstica, relembra os desafios que enfrentou durante a gestação ao ser diagnosticada com pré-eclâmpsia. Os sintomas surgiram de forma progressiva, mas sem um diagnóstico precoce.
“Eu passava mal, ficava em casa com dor de cabeça intensa, vomitando. Não sabia sobre a pré-eclâmpsia, não tinha informação nenhuma”, conta Pamella.
Com 36 semanas de gestação, Pamella percebeu que seu estado de saúde piorava e decidiu buscar atendimento médico. Ao chegar ao hospital, recebeu um diagnóstico alarmante: sua pressão arterial estava muito alta e sua filha estava em sofrimento fetal.
“A médica explicou que minha filha estava em sofrimento fetal e que eu precisava ser internada imediatamente”, relembra.
Diante da gravidade do quadro, Pamella foi transferida para outro hospital, onde sua pressão continuou subindo. “Fui levada para a sala vermelha e fiquei lá por cerca de quatro horas, sozinha. Senti uma sensação muito ruim, de desmaio”, descreve.
O parto de Pamella não aconteceu como planejado. Inicialmente, seu desejo era passar pelo trabalho de parto em casa e ir ao hospital apenas quando estivesse pronta para o nascimento da filha. No entanto, devido ao quadro de pré-eclâmpsia severa, precisou ser internada para controle da pressão. Após dois dias sob monitoramento, a indução foi necessária. O parto foi normal, mas com dificuldades.
“Tive sensação de desmaio, tudo girava, mas consegui. Minha filha nasceu sem chorar, roxa e com dificuldades para respirar”, relembra.
Após o nascimento, os médicos recomendaram que Pamella fosse encaminhada à UTI para acompanhamento devido ao risco da pré-eclâmpsia. No entanto, ela recusou. “Eu estava bem e queria ficar com minha filha. As enfermeiras aceitaram minha decisão”, conta.
Sinais e sintomas da Pré-eclâmpsia

Para compreender melhor essa condição, a reportagem conversou com a obstetra Dra. Milzi Sarmento, que explicou que a pré-eclâmpsia é uma complicação da gestação que ocorre após as 20 semanas e pode levar a aumento da pressão arterial, perda de proteína na urina e, em casos graves, danos a órgãos como fígado e rins.
Segundo a médica, os principais fatores de risco para a pré-eclâmpsia incluem:
- Histórico anterior de pré-eclâmpsia
- Gestações múltiplas (gravidez de gêmeos ou mais)
- Obesidade
- Hipertensão crônica
- Diabetes (tipo 1 ou 2)
- Doenças autoimunes
- Gestações por fertilização in vitro
- Histórico familiar da doença
A obstetra Dra. Milzi Sarmento destaca que a principal alteração da pré-eclâmpsia é o aumento da pressão arterial. Segundo ela, a condição costuma ser silenciosa, e quando os sintomas surgem, o quadro já pode estar em estágio mais grave.
“Geralmente, é uma doença silenciosa e, quando os sintomas aparecem, já se trata de um caso mais grave. Entre os sinais de alerta estão dores de cabeça persistentes, dores abdominais, náuseas, vômitos e alterações na visão”, explica a médica.
Diagnóstico e acompanhamento
A pré-eclâmpsia pode ser identificada precocemente com um pré-natal bem conduzido. Segundo a obstetra Dra. Milzi Sarmento, medir corretamente a pressão arterial em todas as consultas é essencial para detectar qualquer alteração.
“Caso haja variações na pressão, exames específicos devem ser solicitados para um diagnóstico preciso”, orienta a especialista. Uma vez diagnosticada, a gestante precisa de um acompanhamento rigoroso.
“Monitoramos a necessidade de medicação para pressão arterial, realizamos exames laboratoriais e ultrassonografias para avaliar o desenvolvimento do feto”, explica a médica.
Nos casos graves, a internação hospitalar pode ser necessária, pois as complicações podem surgir rapidamente.
“Entre os riscos estão eclampsia (convulsões), coma, cegueira central, descolamento de retina, AVC, descolamento prematuro da placenta, problemas hepáticos, edema pulmonar, infarto do miocárdio e insuficiência renal. Além disso, o bebê pode sofrer restrição de crescimento e precisar nascer prematuramente”, alerta a médica.
Prevenção e cuidados
Para reduzir os riscos da pré-eclâmpsia, a médica recomenda que as mulheres busquem acompanhamento médico desde o planejamento da gravidez.
“Na consulta pré-concepcional, identificamos fatores de risco e orientamos sobre controle clínico, dieta e atividade física. Durante o pré-natal, o exame morfológico do primeiro trimestre nos ajuda a avaliar marcadores de risco, e, se necessário, iniciamos a prevenção com ácido acetilsalicílico (AAS) e suplementação de cálcio”, finaliza a especialista.