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Foto: Laylla Brandão
A educação sexual ainda é um tema que causa receio em muitos pais. O medo de abordar o assunto de forma inadequada ou a falta de referências sobre como tratá-lo são alguns dos fatores que dificultam esse diálogo dentro de casa.
De acordo com a sexóloga e educadora sexual Mel Falcão, um dos principais equívocos sobre educação sexual é acreditar que o tema se resume a ensinar sobre relações sexuais e métodos contraceptivos. Na realidade, esse processo começa cedo, ainda nos primeiros anos de vida.
“O início da educação sexual acontece a partir do momento em que a criança se torna vulnerável a abusos, ou seja, desde o nascimento. Ao trocar a fralda de um bebê, por exemplo, pedir licença e explicar o que está sendo feito já é um passo importante”, explica ao Eufêmea.

Como adaptar o diálogo de acordo com a idade
Segundo a sexóloga e educadora sexual Mel Falcão, a abordagem sobre sexualidade deve acompanhar o desenvolvimento da criança e ser adequada a cada fase de crescimento.
- 0 a 2 anos: Introduzir noções de privacidade e respeito ao próprio corpo.
- 3 a 5 anos: Ensinar os nomes corretos das partes do corpo e falar sobre consentimento.
- 5 a 9 anos: Explicar, de forma simples, como ocorre a reprodução e introduzir temas como puberdade e menstruação.
- 10 a 12 anos: Conversar sobre mudanças hormonais, emoções e higiene íntima.
- 13 anos ou mais: Abordar prevenção de ISTs, métodos contraceptivos, consentimento e relações saudáveis.
Além de adaptar o conteúdo, é essencial criar um espaço seguro para que a criança ou adolescente se sinta confortável para fazer perguntas. Evitar reações exageradas ou debochadas também é fundamental. “Deixe as crianças à vontade e evite se espantar ou cair na gargalhada com perguntas inusitadas”, orienta Mel Falcão.
A influência da internet na educação sexual
O acesso precoce à internet traz desafios adicionais para os pais. Muitas crianças e adolescentes recorrem ao ambiente digital em busca de respostas, o que pode levá-los a informações distorcidas ou inadequadas para a idade.
Para minimizar essa exposição, a especialista recomenda estabelecer regras de uso, monitorar a navegação e utilizar ferramentas de controle parental.
“A internet não é o lugar ideal para esse tipo de aprendizado sem orientação. Por isso, é essencial manter um diálogo aberto e um acolhimento contínuo, criando proximidade para que os pais sejam a principal fonte de informação confiável para seus filhos. Se você mentir, seu filho vai buscar no Google, encontrar conteúdos inapropriados e nunca mais confiar em perguntar nada para você”, alerta a especialista.
Como abordar temas delicados
Falar sobre consentimento e prevenção de abusos exige uma abordagem natural e acessível. Segundo a sexóloga, uma das melhores estratégias é aproveitar situações do dia a dia para introduzir o tema de forma leve e compreensível. Além disso, o uso de materiais educativos, como livros e vídeos, pode facilitar a comunicação e tornar o assunto mais acessível para crianças e adolescentes.
Para mães solo, que frequentemente assumem essa responsabilidade sozinhas, a orientação profissional e o suporte de grupos de apoio podem ser aliados valiosos. “Buscar informação e compartilhar experiências com outras mães torna o processo mais seguro e confortável”, destaca Falcão.
“Esteja aberto a ouvir, não a reprimir”
Além de informar sobre consentimento e prevenção, é essencial também saber ouvir. É o que explica a psicóloga especialista em relacionamentos e sexualidade, Laylla Brandão.
“Sempre pergunte: filho ou filha, como você vê ou pensa sobre determinada situação? Estimule o jovem a compartilhar sua percepção, compreenda, esteja aberto a ouvir e não a reprimir. Em seguida, façam considerações juntos, analisando diferentes perspectivas”, orienta a especialista.
Laylla ressalta que essas conversas não precisam ter uma conclusão definitiva ou seguir uma ordem rígida. O mais importante é criar um ambiente seguro, onde o tema possa ser discutido sem imposição de regras, brigas, culpabilizações ou punições.
“Traga essas pautas para filmes, jogos—existem até cartinhas que estimulam debates em família. O essencial é entender o que eles estão absorvendo e oferecer direções saudáveis para essa vivência”, sugere.
A importância de acompanhar o conteúdo consumido
Além de dialogar, é fundamental estar atento ao que os jovens estão consumindo na internet e na mídia. “O papel de mãe, pai ou responsável hoje exige dedicação ao acompanhamento do conteúdo e das telas. Muitas vezes, se ‘vendem’ vivências, e não verdades científicas”, alerta Laylla.
Sabedoria e responsabilidade
A especialista enfatiza que a construção da sexualidade e a vivência do sexo são subjetivas e únicas para cada indivíduo. “Os filhos precisam ter liberdade para formar sua própria compreensão, sem regras rígidas ou pressões, mas com sabedoria e responsabilidade”, pontua.
Se os responsáveis sentirem dificuldade em abordar o tema, é natural que o assunto gere desconforto. No entanto, buscar informações qualificadas e apoio de profissionais pode facilitar esse processo. “Há uma frase que rege nossas relações em geral: é preciso falar sobre assuntos difíceis também!”, conclui.