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Prazeres imediatos e seus impactos em nossa vida: o que a neurociência e a terapia do esquema nos dizem?

Vivemos em uma era de gratificação instantânea. O acesso fácil a redes sociais, alimentos ultraprocessados, compras online e até mesmo relacionamentos superficiais nos proporciona doses rápidas de prazer. Mas será que essa busca constante por estímulos imediatos está realmente nos fazendo bem? A neurociência e a Terapia do Esquema oferecem respostas importantes sobre os efeitos desse padrão em nosso cérebro e em nossa vida.

Primeiramente, preciso falar um pouco sobre o papel da dopamina na busca por recompensas. A dopamina é um neurotransmissor fundamental no nosso sistema de recompensa; ela nos impulsiona a buscar experiências prazerosas e é essencial para a motivação e o aprendizado. Por exemplo, quando comemos algo gostoso, recebemos curtidas em uma postagem ou finalizamos uma tarefa importante, a dopamina é liberada, gerando uma sensação de prazer.

No entanto, a dopamina funciona com base na antecipação da recompensa, e não apenas no prazer em si. Isso significa que, quanto mais buscamos experiências prazerosas, mais nosso cérebro aprende a desejar esses estímulos. Esse mecanismo é natural, mas, quando hiperestimulado – por meio do uso excessivo de redes sociais, consumo compulsivo de açúcar ou até mesmo pornografia – pode levar a um ciclo de dependência.

O problema da busca constante por prazeres imediatos é o efeito rebote. Quando a dopamina é liberada em excesso, o cérebro reage diminuindo sua sensibilidade ao neurotransmissor. Como resultado, precisamos de estímulos cada vez mais intensos para sentir o mesmo prazer. Além disso, períodos de baixa dopamina podem gerar sintomas como desmotivação, ansiedade e até depressão. É nesse ponto que o prazer se torna mal-estar.

Esse ciclo explica por que, após horas no celular ou um dia comendo besteiras, muitas pessoas se sentem esgotadas ou frustradas. O prazer momentâneo é seguido por um vazio emocional, levando à necessidade de buscar mais estímulos – criando um ciclo vicioso.

Aplicando na minha prática clínica, psicologia na perspectiva da Terapia do Esquema, o que percebo e trabalho com meus queridos pacientes são os Modos e Esquemas envolvidos nesse comportamento. A Terapia do Esquema, desenvolvida por Jeffrey Young, nos ajuda a entender como padrões psicológicos influenciam esse comportamento. Algumas das dinâmicas mais comuns nesse contexto incluem:

Modo Criança Impulsiva: Esse modo busca gratificação imediata, ignorando consequências futuras. Ele pode ser ativado em pessoas que tiveram dificuldades na infância com a regulação emocional e aprenderam que o prazer imediato é a melhor (ou única) forma de alívio. Porém, gosto de salientar que esse modo não é sempre “negativo”, pois, sem nossa Criança Impulsiva, não teríamos coragem de nos arriscar na vida de forma saudável. Ou seja, ela tem que existir, mas precisa coabitar com nosso Adulto Saudável.

Modos Compulsivos, Protetor Autodestruidor ou Protetor Autoaliviador relacionados ao Esquema de Privação Emocional: Pessoas que cresceram em ambientes emocionalmente negligentes podem sentir um vazio interno e, inconscientemente, tentar preenchê-lo com prazeres rápidos. Isso pode levar a padrões compulsivos, como compras exageradas, alimentação emocional ou uso excessivo de tecnologia.

Esquema de Autocontrole Insuficiente: Esse esquema se forma quando uma pessoa tem dificuldades em se frustrar ou postergar recompensas. Em geral, isso acontece quando não houve uma estrutura clara na infância para ensinar a importância do equilíbrio entre prazer e responsabilidade.

Modo Vozes Críticas e Punitivas Internalizadas: Por outro lado, quando a pessoa busca prazeres imediatos, mas tem uma voz interna crítica e severa, pode surgir um ciclo de autossabotagem: primeiro vem o prazer, depois a culpa intensa e, em seguida, a necessidade de mais prazer para aliviar a culpa.

Mas como romper o ciclo da gratificação instantânea?

O segundo passo, após se dar conta do ciclo em que se encontra, é compreender que a mudança não acontece do dia para a noite, mas algumas estratégias podem ajudar:

  1. Aumentar a Consciência – Observar quando e por que buscamos prazeres imediatos pode ajudar a reconhecer padrões inconscientes.
  2. Praticar a Tolerância à Frustração – Pequenos desafios, como adiar a checagem do celular ou evitar alimentos ultraprocessados por um tempo, podem fortalecer nossa capacidade de autocontrole.
  3. Cultivar Fontes de Prazer Mais Duradouras – Em vez de buscar dopamina em estímulos rápidos, é importante investir em prazeres mais sustentáveis, como conexões significativas, hobbies e aprendizado.
  4. Trabalhar Modos e Esquemas na Terapia – A Terapia do Esquema pode ajudar a identificar quais modos e esquemas estão influenciando esse comportamento e criar estratégias para regulá-los de forma mais saudável.

Essa mudança é complexa, e contar com ajuda qualificada faz toda a diferença!

Muitas vezes, os momentos mais felizes que vivemos não vêm após uma conquista, mas sim após a superação de algo muito difícil e árduo. Sentimos o valor da vida e o alívio de sair do lugar da dor, a gratidão por estar bem após uma grande dificuldade.

A cultura de fuga da dor e busca pelo prazer constante também nos priva dessa sensação de verdadeira plenitude. Vive-se, então, uma fuga eterna, em um mundo ilusório que apenas disfarça nossa prisão.

A busca por prazer é natural e necessária, mas, quando feita de forma impulsiva e sem equilíbrio, pode gerar insatisfação a longo prazo. A neurociência nos mostra que a dopamina, quando estimulada em excesso, pode levar à desmotivação e ao vazio emocional. Já a Terapia do Esquema nos ajuda a entender as origens emocionais desse padrão e a encontrar formas mais saudáveis de buscar prazer e realização.

O desafio é aprender a equilibrar o prazer imediato com conquistas mais profundas e duradouras. Afinal, a verdadeira satisfação não vem apenas do que nos faz sentir bem no momento, mas do que nos proporciona sentido na vida e bem-estar a longo prazo.

Cuide-se! Priorize sua saúde mental, sua felicidade depende apenas de você!

Foto de Natasha Taques

Natasha Taques

Psicóloga clínica (CRP-15/6536), formada em Terapia do Esquema pelo Instituto de Educação e Reabilitação Emocional (INSERE), Formação em Terapia do Esquema para casal pelo Instituto de Teoria e Pesquisa em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental (ITPC).