Como a gente lida com a dor quando tudo ao nosso redor desaba? Como seguir em frente quando perdemos alguém que tanto amamos? Sim, amamos — no presente — porque o amor não desaparece com a ausência.
Neste final de semana, fui atravessada por duas mortes de pessoas que eu nem conhecia. E, ainda assim, doeu. Elas chegaram até mim como quem invade o peito sem pedir licença: no desconforto, no aperto, na impotência.
Algumas partidas — mesmo distantes — são tão trágicas que viram marcas. Traumas até. Eu não sei bem o que dizer numa hora como essa. Talvez porque, na verdade, não haja o que dizer. Silêncios também falam. Lá no íntimo de quem fica, pode surgir uma raivinha contida do Criador — por que Ele permitiu isso? — ao mesmo tempo em que vem o peso da culpa por sentir raiva de quem acreditamos que nos protege todos os dias.
O que eu sei é que meu coração apertou. E quando o coração aperta, eu escrevo. Talvez esse texto alivie um pouco meu próprio peito. Talvez alivie o de mais alguém.
Ano passado, li um livro que mudou meu olhar sobre a vida — e, principalmente, sobre a morte. A morte é um dia que vale a pena viver, da médica paliativista Ana Claudia Quintana Arantes. Vou citar aqui dois trechos do livro que me chamaram atenção:
“Quando se entende que o tempo é limitado, a gente passa a escolher melhor com quem, como e onde quer estar.”
“A morte nos ensina a viver. Quando entendemos que a vida é finita, passamos a viver com mais presença, mais amor, mais entrega. Viver com a consciência da morte é um convite diário à coragem.”
Porque é isso: a gente não tem certeza de nada. Nenhum de nós sabe até quando vai estar aqui. Algumas mortes nos atravessam mais do que outras. Às vezes é pela forma como aconteceu. Outras vezes, é por nos lembrar de alguém que amamos. Ou, simplesmente, porque expõe com brutalidade a nossa impotência diante da finitude.
A verdade é que nenhuma despedida é simples. Algumas são tão abruptas que nos deixam sem chão, sem palavras e sem ar. E tudo o que nos resta é sentir. Sentir a dor, o vazio, a saudade, a raiva, o medo, a incredulidade. Tudo misturado.
Não há resposta pronta. Nem explicação que conforte por completo. Na fé, aprendemos que Deus chama no tempo d’Ele. Mas, aqui do lado de cá, às vezes é difícil entender os porquês.
O que nos resta, talvez, seja a escolha de viver com mais intenção. De cuidar melhor do agora. De amar sem tanto medo. De estar presente — mesmo sem saber até quando.
Não sei se um dia saberemos por que algumas partidas são do jeito que são. Só sei que, mesmo sem entender, a dor nos move — e o amor também.
Desejo, a quem perdeu alguém neste fim de semana — ou nestes últimos dias — que, dentro do possível, encontre caminhos para se recuperar. E que, pouco a pouco, a vida volte a caber no peito.