Essa semana voltei aos atendimentos online, após 15 dias de recesso que eu mesma me concedi. Estou de férias do posto de saúde e também havia pausado os atendimentos particulares. Confesso: voltei com o coração meio apertado, como quem retorna pra casa depois de uma longa viagem.
Durante uma das sessões, me emocionei com a fala de uma paciente muito querida. Não é raro isso acontecer — afinal, trabalhamos com pessoas, com histórias, com afetos. Mas eu sempre acolho esses momentos com carinho. Sempre que me emociono, sinto que ainda estou inteira ali. Sinto que não me tornei máquina. E, pra ser honesta, tenho um certo medo disso. Medo de me tornar automática, de não me afetar mais. Porque, pra mim, vínculo e escuta verdadeira sempre passam pelo coração.
Essa paciente caminha comigo há cerca de um ano. É uma mulher que chegou com dificuldades em flexibilizar, em ressignificar. Tinha padrões muito rígidos — como tantas de nós — e, aos poucos, foi abrindo espaço para o novo. Hoje, ela me disse algo que me tocou profundamente:
“Eu tenho amado aprender. Eu percebi que aprender é bom. Que a gente pode voltar, pode seguir, pode recomeçar.”
Aquilo me atravessou. Aprender como um jeito de recomeçar. Aprender como um jeito de sonhar.
É tão bonito quando a gente se dá conta de que não está pronta, de que pode mudar de ideia, crescer, desapegar de certezas, experimentar. Que não existe idade nem fase certa pra isso. E que o aprendizado não precisa, necessariamente, vir da dor — ele pode vir do encontro, da escuta, do cuidado.
Aprender nos devolve a esperança. Nos abre um futuro. E hoje, no meu retorno ao trabalho, foi exatamente isso que eu senti: esperança.