Nascida em Maceió, Alagoas, mas forjada entre os canaviais e povoados do interior do estado, Mônica Maria de Santos Silva — hoje conhecida como Mônica Benvindo — construiu sua trajetória com coragem, escolhas difíceis e uma resiliência admirável. Mulher negra, de origem pobre e criada pela dureza do trabalho em usinas, ela é, hoje, vereadora do município do Pilar. Mas até ocupar uma cadeira no legislativo, precisou enfrentar perdas, conciliar múltiplos papéis e acreditar, todos os dias, que era possível vencer pelo estudo e pelo trabalho honesto.
“Eu venho do interior do interior. Nem era da cidade, era de povoados onde meu pai, sempre assalariado, trabalhava em usinas”, relembra. Foi nesse ambiente rural, entre constantes mudanças e limitações financeiras, que Mônica aprendeu valores que carrega até hoje: respeito, honestidade e responsabilidade.
A força dos valores familiares
Apesar da simplicidade da vida no campo, os ensinamentos do pai — homem de poucas palavras, mas de muito cuidado — moldaram sua forma de enxergar o mundo. “O maior exemplo de homem que eu tenho é meu pai. Mesmo com uma educação mais dura, ele sempre foi muito carinhoso e protetor.”
Desde pequena, Mônica demonstrava um senso de responsabilidade incomum. Estudante de escola pública, sempre se destacou pela dedicação. Aos 18 anos, já formada no ensino médio, começou a dar aulas de reforço para crianças da comunidade onde vivia, na Fazenda Terra Nova. A iniciativa chamou atenção da direção da usina local, que a convidou para trabalhar como recepcionista.
Educação como virada de chave

Foram sete anos de trabalho, começando na recepção e, depois, como auxiliar de contabilidade. Mas Mônica queria ir além. Passou no vestibular para o curso de Serviço Social na Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e passou a dividir os dias entre o trabalho em tempo integral e as aulas na capital. A rotina era quase impossível: saía da Usina às 18h e, às 19h, já precisava estar na sala de aula. Muitas vezes, chegava atrasada e exausta.
O cansaço cobrou seu preço. Reprovada em uma disciplina de estágio, ouviu da professora uma frase dura — mas transformadora, segundo ela: “Você precisa escolher o que é prioridade: o trabalho ou o estudo.”
“Foi uma das piores frases que já ouvi, mas também a mais importante. Me fez tomar coragem para decidir. E eu escolhi estudar”, conta.
Entre o cuidado e a política
Hoje, Mônica se reconhece em múltiplas dimensões: é mãe, esposa, assistente social e vereadora. Mas a jornada até aqui exigiu sacrifícios e renúncias.
“O que mais me dá orgulho é olhar para trás e ver toda essa construção. Teve muita luta, força e momentos em que precisei abrir mão de coisas. Lembro de acordar de madrugada para fazer os trabalhos da faculdade. Era o único tempo que eu tinha”, relembra.
A dor e a descoberta da maternidade
No campo pessoal, os momentos mais marcantes foram os nascimentos dos filhos, Maria Vitória e Herbert Vinícius. Mas o caminho até a maternidade não foi simples. Antes de dar à luz Vinícius, hoje com 19 anos, ela sofreu dois abortos espontâneos.
“Eu nunca sonhei em ser mãe. Mas foi justamente por ter perdido dois filhos que o desejo nasceu em mim. Ser mãe é o maior desafio que existe. Você se torna responsável pela vida do outro para sempre”, afirma.
Conciliar os múltiplos papéis — mãe, filha, esposa, profissional — continua sendo um dos seus maiores desafios. “É uma balança difícil. Às vezes você sofre por não dar atenção suficiente à família, à sua mãe, ao trabalho. É uma cobrança interna constante. Mas a gente respira fundo, busca equilíbrio emocional e segue. Não dá pra ser 100% em tudo, mas damos o nosso máximo. E isso é o que importa.”
Uma trajetória moldada pelo serviço
Antes da política, Mônica se construiu na prática do serviço social. Em 2005, foi aprovada em concurso para agente administrativa em Pilar. Em 2010, fez outro concurso e em 2012, assumiu como assistente social, sua verdadeira vocação. Ocupou cargos como coordenadora do CRAS, atuou em outros municípios e dedicou dez anos à instituição Pilar da Solidariedade — onde começou como voluntária e se despediu como presidente.
Em 2019, assumiu a Secretaria Municipal de Assistência Social do Pilar, permanecendo no cargo por quase sete anos. Foi nesse período que Mônica se fortaleceu como gestora pública, articuladora de políticas sociais e defensora dos mais vulneráveis. “Foi ali que nasceu a Mônica Benvindo vereadora”, diz.
O nascimento da vereadora
Em 2024, foi eleita para a Câmara Municipal do Pilar. Em uma casa legislativa com baixa representatividade feminina — apenas três mulheres ocupam cadeiras — ela reafirma sua luta por mais mulheres na política e por mais igualdade de oportunidades.
“Quando a gente não nasce em família de posses, precisa tomar posse das oportunidades. E foi isso que eu sempre fiz. Sou grata a todas as pessoas que me abriram caminhos”, diz.
Agora, como mulher pública, seu maior desejo é que outras mulheres, sobretudo as negras e periféricas, também se reconheçam como capazes.
“Minha luta hoje é fazer com que mulheres se enxerguem com força, com possibilidade de crescimento. É preciso se qualificar, sim, mas acima de tudo, acreditar que é possível crescer a partir da própria força”, conclui.