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Chá de amora na menopausa funciona? Especialistas explicam riscos e falta de evidência

Foto: Shutterstock

Cada vez mais mulheres recorrem a alternativas naturais para lidar com os incômodos da menopausa e o chá de amora tem ganhado destaque nessa busca. Ondas de calor, insônia e ressecamento vaginal são apenas alguns dos sintomas que motivam essa procura. Mas será que o chá de amora funciona de verdade ou é só mais uma promessa sem respaldo científico?

Ao Eufêmea, a ginecologista Karine Lucena explica que, embora muitas pacientes relatem benefícios com o uso do extrato ou chá de amora, o composto não é reconhecido pelas principais entidades médicas como uma opção válida para o tratamento dos sintomas da menopausa.

Foto: Arquivo Pessoal

“Pelas diretrizes da Sociedade Brasileira de Climatério (SOBRAC), os fitoterápicos com respaldo científico são a Cimicifuga racemosa, o trevo-vermelho (Trifolium pratense) e algumas isoflavonas, como o Glycine max (soja). O extrato de amora não está entre eles”, afirma.

Ainda segundo Karine, a terapia de reposição hormonal continua sendo a principal indicação para alívio dos sintomas, por oferecer benefícios em áreas como saúde cardiovascular, cognição, ossos e articulações. No entanto, quando há contraindicações — como histórico de câncer de mama, doenças hepáticas graves, insuficiência renal ou cardiopatias —, o tratamento é adaptado com alternativas seguras.

“Para quem não pode ou não quer usar hormônios, avaliamos fitoterápicos com segurança comprovada e, em alguns casos, antidepressivos como a paroxetina e a desvenlafaxina, que ajudam a reduzir as ondas de calor. Mas tudo isso precisa ser indicado com critério médico”, ressalta.

Riscos do chá de amora

Foto: Arquivo Pessoal

A endocrinologista Jéssika Medeiros reforça que o chá de amora não tem eficácia comprovada nos estudos científicos disponíveis. “Até hoje, não há comprovação científica dos benefícios do chá de amora no alívio dos sintomas da menopausa. Em estudos, seu efeito não foi superior ao placebo”, explica.

Ela alerta que, apesar de naturais, os chás não estão isentos de riscos. “Não há dados de segurança nem benefícios claros que justifiquem seu uso como complemento ao tratamento. Chás como o de amora podem causar sobrecarga hepática, especialmente quando consumidos em excesso.”

Do ponto de vista hormonal, a endocrinologista esclarece que o chá não tem nenhuma ação comparável à terapia de reposição hormonal.

“Não há qualquer semelhança no mecanismo de ação. A terapia hormonal é muito mais eficaz no controle dos sintomas da menopausa. O que o chá pode gerar, em alguns casos, é apenas um efeito placebo.”

Alívio dos sintomas

A endocrinologista reforça que mudanças no estilo de vida como alimentação balanceada e prática regular de atividade física são fundamentais para aliviar os sintomas da menopausa. No entanto, em muitos casos, a falta de hormônio afeta de forma tão significativa a qualidade de vida que apenas a terapia hormonal apresenta resultados clínicos consistentes.

“Quando a reposição está contraindicada, podemos utilizar medicamentos não hormonais específicos, que ajudam a aliviar alguns dos sintomas mais incômodos. Mas o chá de amora, do ponto de vista médico, não tem papel comprovado”, conclui.

Foto de Rebecca Moura

Rebecca Moura

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.