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Como o Governo de Alagoas tem atuado no combate à violência de gênero nas escolas

Imagem:  (CherriesJD/iStock)

Entre 2014 e 2024, mais de 71 mil casos de violência escolar foram registrados no Brasil, sendo a maioria das vítimas meninas, segundo dados do DataSUS analisados pela Agência Tatu. Em Alagoas, diante desse cenário, escolas públicas e privadas vêm recebendo, desde 2017, ações de conscientização voltadas para alunos, professores e funcionários sobre a violência de gênero no ambiente escolar.

A iniciativa, desenvolvida pelas secretarias de Prevenção à Violência (Seprev), Educação (Seduc) e Mulher e Direitos Humanos (Semudh), reconhece o ambiente de estudo não apenas como espaço de aprendizado, mas também como um lugar onde meninas e mulheres precisam se sentir protegidas.

Em 2024, o governo de Alagoas firmou parceria com o Instituto Serenas — organização sem fins lucrativos que atua na prevenção da violência de gênero por meio da educação — para realizar capacitações com profissionais que lidam diretamente com crianças e adolescentes. O objetivo era promover o letramento de gênero, preparando esses profissionais para acolher vítimas de violência, muitas vezes sem outro espaço seguro além da escola para pedir ajuda.

Segundo dados da Seprev, só em 2024, mais de 16 mil estudantes participaram dos ciclos de palestras promovidos pela iniciativa. Em março de 2025, durante o mês de luta internacional das mulheres, oito escolas foram contempladas com as ações, impactando diretamente 1.189 estudantes.

Educar para prevenir: o respeito às meninas começa na escola

Foto: Arquivo Pessoal

Para Josse Leah, professora e gerente de Estratégias de Prevenção à Violência da Seprev, falar sobre violência de gênero nas escolas é essencial para disseminar o princípio do respeito às mulheres em uma fase em que crianças e adolescentes ainda estão formando sua identidade.

“É um ponto de partida para disseminar informações sobre como devemos e podemos tratar o outro, e também sobre o que não queremos e não precisamos em nossas vidas. É uma tentativa de ajudar na construção do adulto consciente”, afirma.

Josse destaca que a falta de informação e a tendência à repetição de padrões e comportamentos são fatores que contribuem para tornar as escolas ambientes nocivos para meninas. Para romper esse ciclo, ela defende que pais, professores e responsáveis assumam um papel ativo no combate à violência.

Como a violência de gênero se manifesta nas escolas

Foto: Arquivo Pessoal

A psicóloga Claryce Gonçalves, que atua em ações de prevenção dentro de escolas, explica que a violência de gênero pode se manifestar de forma sutil, mas causar impactos profundos, especialmente nas meninas.

“Uma das formas de reprodução dessa violência é o bullying, que combatemos de forma incansável. Nesse contexto, ele pode ocorrer de maneira machista. Mas é importante lembrar que essa violência pode ser praticada tanto por colegas quanto por educadores”, diz.

As consequências para quem sofre a violência

O impacto para quem vivencia esse tipo de violência vai muito além da escola. “As consequências são inúmeras e muito sérias. Podem gerar sequelas emocionais, sociais e até físicas”, explica Claryce.

Entre os efeitos mais observados estão baixa autoestima, insegurança, ansiedade e depressão. O rendimento escolar também tende a cair, o que pode provocar isolamento social.

“Por exemplo, uma menina que participava ativamente das aulas pode começar a evitar falar por medo de sofrer a violência novamente”, exemplifica.

A importância da comunidade escolar no enfrentamento à violência

A psicóloga Claryce Gonçalves reforça a importância da escola como um dos pilares na formação do caráter e da cidadania.

“A conscientização dentro das escolas é fundamental. É nesse ambiente que muitas ideias e comportamentos são construídos. Quando a gente atinge esse público, os ganhos são infinitos”, afirma.

Ela destaca que o combate à violência de gênero exige a participação ativa de toda a comunidade escolar.

“Os professores devem educar com consciência de gênero, adaptando o debate às diferentes faixas etárias. Já os funcionários têm um papel indispensável na criação de um ambiente seguro e, muitas vezes, são procurados pelas alunas para relatar situações de violência. Os pais, por sua vez, devem estar presentes, abertos ao diálogo e atentos ao que acontece na escola”, orienta.

Mais do que uma ação pontual, o enfrentamento à violência de gênero nas escolas demanda compromisso contínuo e coletivo. Como lembra Claryce: “Todos possuem o papel de prestar acolhimento sempre.”