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Filhas do amor: elas tiveram suas vidas transformadas ao serem adotadas

Algumas crianças chegam pela barriga; outras, pelo coração. É nesse segundo grupo que estão Gabriela, Giovanna, Tarcila e Cynthia — mulheres que encontraram, na adoção, não apenas um lar, mas também amor, acolhimento e oportunidades que transformaram suas vidas.

Segundo levantamento da Agência Tatu, em 2021 o Nordeste contava com 843 crianças e adolescentes aptos para adoção, enquanto havia 5.027 pessoas interessadas em adotar. A discrepância entre os números se deve ao descompasso entre o perfil das crianças disponíveis e as preferências dos adotantes.

Grande parte das pessoas que desejam adotar prefere crianças mais jovens, sem comorbidades, sem irmãos e com características físicas semelhantes às da família. No entanto, esse último fator não foi determinante para que os pais de Giovanna e Gabriela as escolhessem para integrar uma família cheia de amor e cuidado.

Nascidas do coração

Foto: Arquivo Pessoal

Quando o pai de Giovanna e Gabriela Ghersman descobriu que era estéril, a adoção se tornou uma opção para que o casal pudesse constituir a família com a qual sempre sonharam. Gabriela, a irmã mais velha, foi adotada com poucos dias de vida. Três anos depois, chegou Giovanna, completando o sonho de aumentar a família.

A criação das duas foi marcada por muito carinho, e o tema da adoção sempre foi tratado com naturalidade. Na família, inclusive, há outros membros que também foram adotados.

“Quando criança, a explicação era simples: existem filhos da barriga e filhos do coração. E eu era filha do coração. Isso sempre nos foi passado com muito amor e carinho”, conta Gabriela.

Ela relembra, no entanto, que só teve plena consciência do que significava ser adotada quando pessoas de fora da família começaram a destacar as diferenças entre ela e a irmã, que são negras, e os pais, que são brancos. “Mas esses momentos serviram apenas para mostrar que o amor não tem nenhuma distinção”, diz.

Ao contrário da associação que muitas pessoas fazem, para Giovanna a adoção nunca foi sinônimo de rejeição. Para ela, foi através da coragem dos pais biológicos ao colocá-la para adoção que pôde ter acesso a uma vida diferente da que provavelmente teria com eles.

Além de ganharem um lar cheio de afeto, Giovanna destaca que a adoção proporcionou a ela e à irmã acesso à saúde, à educação de qualidade e a tudo o que uma criança precisa para se desenvolver. Hoje, com 28 e 31 anos, as duas são formadas e afirmam continuar colhendo os frutos de terem crescido em um ambiente acolhedor.

“O melhor presente que a vida me deu”

Foto: Arquivo Pessoal

Aos dois anos de idade, Tarcila Braga, hoje com 34, teve sua vida transformada. Foi quando chegou aos braços de quem, segundo ela mesma, é o maior presente que a vida poderia ter lhe dado: sua mãe.

Desde o começo, ela soube que era adotada. O tema sempre foi abordado em casa com leveza e afeto. “Minha mãe nunca escondeu de mim que eu era adotada, mas sempre fez questão de me mostrar o quanto eu era amada, desejada e protegida”, conta.

O vínculo entre elas sempre foi tão forte que, para Tarcila, a ideia de não ter nascido da barriga da mãe nunca fez diferença.

“Eu posso não ter nascido dela, mas sempre fomos muito unidas. Sempre nos amamos. Ela é o melhor presente que a vida poderia ter me dado”, afirma.

Ao falar sobre sua trajetória, ela não tem dúvidas: tudo o que é hoje, deve à mãe que a acolheu. O cuidado e a proteção fizeram dela uma mulher segura, grata e cheia de admiração por quem escolheu ser sua mãe. “Se, na próxima vida, eu pudesse escolher, escolheria ela de novo, sem pensar duas vezes”, declara.

Onde o amor nunca acaba

Foto: Arquivo Pessoal

Cynthia Kassia também foi adotada ainda muito nova — tinha apenas dois meses de vida. No entanto, durante a infância, a adoção nunca foi um tema discutido em casa, e ela cresceu sem saber sobre sua origem.

Aos 14 anos, após um comentário feito por um conhecido da família, Cynthia passou a desconfiar que poderia ter sido adotada. Ao questionar os pais, recebeu a confirmação. E, apesar do receio deles, o episódio não abalou o vínculo familiar. Pelo contrário: mostrou a ela que o amor é muito mais profundo do que qualquer laço sanguíneo.

“Eles ficaram com medo de que eu fosse procurar minha família biológica e os deixasse. Mas eu nunca tive essa vontade. Percebi que isso não faria diferença, porque na minha vida nunca faltou nada — principalmente amor”, conta.

Para ela, o cuidado e os ensinamentos recebidos ao longo dos anos foram o que mais importaram. Como forma de não se esquecer disso, tatuou na pele a frase: “onde a vida começa e o amor nunca acaba”. Inspirada pelo exemplo que teve em casa, Cynthia, hoje com 33 anos, decidiu construir sua própria família com os mesmos valores.