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“A luta precisa ir além do 8 de março”, diz representante da Marcha das Mulheres em Alagoas; ato será realizado nesta quinta

Foto: Cortesia

Em meio ao aumento dos casos de feminicídio e violência de gênero em Alagoas, movimentos feministas se articulam para cobrar respostas efetivas do poder público. Nesta quinta-feira (12), mulheres realizam um ato em Maceió exigindo justiça, proteção e políticas públicas que saiam do papel.

Em entrevista à Eufêmea, Talita Lins, estudante e representante da Marcha Mundial das Mulheres em Alagoas, falou em nome da Frente Feminista, uma das organizadoras da mobilização e disse que a luta precisa ir além do dia 8 de março, que é o dia Internacional da Mulher.

Segundo Talita, os casos que vêm ganhando visibilidade desde abril apresentam um padrão alarmante: vítimas cada vez mais jovens, como meninas e adolescentes, e a ausência de respostas das autoridades. “Desde o início do ano, vimos casos como o de Anna Cecillya, de apenas 9 anos, em Branquinha, e o de Niedja Nathalia, em Viçosa. Mas foi a partir de abril que percebemos o aumento na frequência e na brutalidade dos crimes”, afirma.

A forma como a mídia tem abordado os casos também é motivo de preocupação. Para ela, a cobertura de crimes como o de Ana Beatriz, estudante do IFAL, priorizou a vida pessoal da vítima em vez de denunciar a violência.

A Frente Feminista critica o silêncio institucional diante das mortes e agressões. “Não vimos pronunciamentos do governo estadual, das prefeituras ou do Tribunal de Justiça. As políticas públicas existem, mas não se efetivam. As mulheres estão desprotegidas e não são ouvidas”, denuncia Talita.

Entre as principais reivindicações estão a celeridade nos processos judiciais envolvendo violência contra mulheres, o fortalecimento das redes de proteção e a cobrança por ações concretas dos governos municipais e estaduais. Talita também destaca a necessidade de efetivação do Plano de Políticas para as Mulheres, com orçamento garantido e uma mesa de situação ativa. Ela critica ainda o recente desmembramento da Secretaria da Mulher e dos Direitos Humanos, que, segundo o movimento, enfraquece a atuação institucional voltada às mulheres.

A Patrulha Maria da Penha, os fóruns e os conselhos de direitos também são apontados como estruturas inoperantes. “Esses espaços deveriam ser instrumentos de mudança, mas não funcionam como deveriam. É preciso cobrar e reformular”, reforça.

O ato desta quinta foi organizado majoritariamente por mulheres de Maceió, mas conta com articulações em cidades como Arapiraca, Santana do Ipanema, Viçosa e Murici. Em Arapiraca, um caso recente de tentativa de feminicídio dentro da UNEAL levou o Diretório Central dos Estudantes a entregar um documento ao governador cobrando providências — ainda sem resposta. No IFAL Murici, estudantes se organizam para prestar homenagem a Ana Beatriz durante o ato, em articulação com o Movimento de Mulheres Camponesas.

Embora o movimento busque ampliar sua presença em outras regiões e diversificar suas ações, enfrenta dificuldades logísticas. “Não conseguimos apoio para transporte, mas seguimos buscando parcerias para facilitar mobilizações futuras. A luta precisa ir além do 8 de março ou de um único protesto”, conclui Talita.

Foto de Rebecca Moura

Rebecca Moura

Jornalista formada pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.