“Ela amava o mar. Era o lugar favorito dela. Ela era muito família, estudiosa, trabalhadora, sempre corria atrás dos próprios sonhos. Era a cola da família.” É assim que Francielle Priscila Silvério de Souza descreve a irmã, Renata Maria Lima Silvério, de 28 anos, professora, que morreu no dia 7 de junho, grávida de dois meses, após cair da moto que pilotava e ser atropelada por um caminhão na Avenida Fernandes Lima, no bairro da Gruta de Lourdes, em Maceió.
O delegado Carlos Reis, coordenador da Delegacia de Trânsito, informou na segunda-feira (16), que a principal linha de investigação aponta que um motociclista trafegava em alta velocidade, buzinando repetidamente para que Renata saísse da frente.
Ele levava um garupa, que carregava um pacote, um saco plástico com papéis, e o objeto caiu na pista durante uma manobra. O delegado explicou que o pacote teria passado por cima da motocicleta de Renata, fazendo com que ela perdesse o equilíbrio e caísse na frente do caminhão.
O delegado afirmou que a investigação deve esclarecer se as buzinadas foram um alerta por causa do objeto caído na via ou se tinham outro objetivo, como intimidar ou assediar Renata.
A tia favorita das crianças
Em conversa exclusiva com a Eufêmea, Francielle diz que Renata “gostava de ver todo mundo unido” e que ela escolheu a educação infantil como vocação.
“Ela era a tia favorita das crianças, todas queriam estar perto dela. Era paciente, dedicada. Quando não estava dando aula, estava cuidando da nossa mãe, na casa do pai ou da cachorrinha dela”, conta Francielle.
O sonho interrompido de ser mãe

Francielle conta, emocionada, que desde pequena Renata sonhava ser mãe de gêmeos. O desejo da maternidade parecia, enfim, se tornar realidade. “A gente só soube da gravidez quando ela morreu. Ela tinha contado só para o pai, queria fazer surpresa para a família. Não chegamos a ver ela realizar o maior sonho dela”, lamenta.
Ser veterinária também era uma meta que Renata precisou deixar para trás. “Ela queria muito, mas na época não tinha o curso na UFAL. E não dava para estudar fora, nem se manter em outro estado. Então seguiu outro caminho, mas sempre foi apaixonada por animais”, relembra a irmã.
Para Francielle, a maior dor é saber que tantos planos ficaram pelo caminho. “Quando penso nela, penso nos sonhos que ela não conseguiu viver. Fico imaginando se ela seria uma mãe tão boa quanto foi como irmã, filha, amiga… O que mais machuca é não ter visto ela realizar isso”, desabafa.
“Não foi acidente”
A família não aceita a narrativa de que tudo foi uma fatalidade. Francielle diz que todos sabiam que Renata era uma boa condutora, andava devagar e no limite. “Nunca caiu de moto. O que aconteceu foi imprudência, falta de empatia. Só porque era uma mulher na moto, acharam que a pressa deles valia mais do que a vida dela.”
Francielle reforça que, mesmo com várias testemunhas, até agora ninguém foi responsabilizado. “Antes de ganhar repercussão, era tratado como só mais um acidente. Mas não foi. Minha irmã não merecia isso. O homem que tirou a vida dela e dos filhos que ela esperava continua livre, enquanto ela está enterrada. É revoltante”, desabafa.
Enquanto a investigação segue, a família de Renata luta para que o caso não seja esquecido e apela por justiça.
“A sociedade só se conscientiza quando vê consequência. A gente quer justiça. Ela não vai voltar, mas o responsável precisa responder para que outras famílias não passem pela mesma dor. Ela foi tirada da gente de uma forma horrível”, desabafa Francielle.