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Empreender como mulher, inovar como mãe: o que ninguém te conta sobre liderar com afeto e estratégia

A gente ouve muito sobre “mulheres que dão conta de tudo”, mas pouco se fala sobre o custo que isso tem — principalmente quando se decide inovar. Empreender já é, por si só, uma travessia. Empreender sendo mulher, mãe e CEO é lidar com atravessamentos diários invisíveis para os olhos do mercado.

Quando pedi demissão do mercado corporativo em 2017, eu buscava liberdade. Mas, na prática, encontrei uma realidade ainda mais exigente — onde, além de ser competente, eu teria que provar, dia após dia, que merecia estar ali. Não bastava empreender: era preciso me encaixar no que esperavam de uma empreendedora “de sucesso”. E quase sempre, isso significava abrir mão do que me tornava mais potente: minha sensibilidade, minha maternidade, minha forma afetiva (e nada ingênua) de liderar.

Foi nesse contexto que nasceu a Sandora — uma startup criada por uma mulher, liderada por uma mãe e construída com uma visão que coloca a segurança emocional e a igualdade de gênero no centro da inovação. Não é à toa: meu corpo já foi silenciado em reuniões. Minha fala já foi interrompida por homens que não sabiam do que eu era capaz. Já me chamaram de “difícil” por defender princípios. E mais de uma vez, tive que negociar com o mundo para poder buscar meu filho na escola sem parecer “pouco comprometida”.

Liderar uma empresa com uma criança no colo e uma ideia disruptiva na cabeça é, ao mesmo tempo, resistência e reinvenção. A gente não separa as identidades. Elas caminham juntas, e é justamente daí que surge a força de propor soluções diferentes — mais humanas, mais completas, mais urgentes.

Na Sandora, eu transformei dor em ferramenta. E a minha vivência não é exceção — é regra para milhares de mulheres que querem inovar, mas encontram portas pesadas demais para abrir sozinhas. Por isso, escolhi começar esta coluna falando sobre isso. Para dizer que sim, é possível inovar com afeto e estratégia. Mas também para denunciar que o modelo atual de inovação ainda é masculino, excludente e cego para o que não se encaixa.

Eu não quero só ocupar espaço. Quero transformar os espaços que ocupo.

Se você também sente que precisa disfarçar sua maternidade para ser levada a sério, ou esconder sua sensibilidade para ser respeitada, saiba: o problema não é você. O problema é o modelo. E está mais do que na hora de hackeá-lo.

Foto de Meline Lopes

Meline Lopes

Jornalista, advogada, especialista em comunicação e em marketing digital. Atuou como repórter de televisão durante 9 anos em diversas emissoras do Brasil. É repórter do Eufêmea.