Foto principal: Larynne
Com cinco anos de experiência na confeitaria, a administradora Larynne Suica, de 34 anos, estava enfrentando um dos piores meses de vendas desde que abriu o próprio negócio. “Julho estava escasso. Eu joguei produto no lixo porque passou da data de consumo e não vendia. Mesmo com divulgação em grupos de condomínio e parceria com influenciadores, nada funcionava”, relata.
Com quatro funcionários, aluguel, contas e impostos, a pressão financeira só aumentava. Em dias de faturamento normal, o negócio chegava a gerar até R$ 1.200, mas em meio à crise, havia dias em que Larynne não chegava a vender R$ 200. “O desespero bateu. Tentei de tudo: combos, novidades, promoções. Nada segurava a clientela”, disse à Eufêmea.
Foi então que surgiu o Morango do Amor que virou o queridinho do momento. A receita viralizou na internet e virou febre em diversas cidades do Nordeste, incluindo Maceió. E para muitas empreendedoras, como Larynne, essa tendência não foi apenas um sucesso de vendas. Foi um respiro. Um afago em meio à instabilidade do setor.
O primeiro teste com os morangos deu errado, mas Larynne não desistiu. “No outro dia, fiz 36 e esgotaram. Depois, 52. Nosso recorde foi vender 52 unidades em 18 minutos”, diz, ainda impressionada. Agora, a meta da confeiteira é ousada: mil unidades para o fim de semana.
“Ele está mantendo empregos e famílias”
Mas, para além das vendas, Larynne destaca o impacto real do morango do amor em sua vida e de outras empreendedoras. “Ele está me permitindo manter meu sonho de pé. Já dei entrevistas para rádio, distribuidora. Essa visibilidade não existia antes. O morango trouxe uma virada de chave”, afirma.
Com a loja funcionando a todo vapor, ela ainda pontua que o impacto vai além da própria cozinha.
“Esse doce ajudou desde o senhor das barracas de fruta, passando pelo distribuidor, até chegar nas confeiteiras que estavam prestes a fechar as portas. Ele está mantendo empregos, famílias e sonhos vivos”, afirma.
Para alguns, o Morango do Amor pode parecer apenas mais uma moda passageira das redes sociais. Mas, para Larynne, ele representa muito mais do que isso. “Para mim, a fé foi renovada e a esperança de conseguir pagar todas as despesas voltou a surgir”, afirma. Ela explica ainda que o doce virou uma espécie de porta de entrada: “As pessoas chegam pelo Morango do Amor, mas acabam conhecendo e levando outras opções também”, diz.

“Salvou a minha faculdade”
Para pequenas empreendedoras, como a jovem alagoana Anny Laura, de 22 anos, o sucesso da receita viral representou mais do que uma tendência: foi um alívio financeiro e emocional. “Foi isso que salvou a minha faculdade”, afirma Anny.
Técnica em enfermagem e estudante de psicologia, ela sempre amou a área da saúde, mas enfrentava dificuldades para se manter financeiramente atuando exclusivamente nesse setor. “É uma área muito acirrada e também muito desvalorizada. A gente acaba ganhando muito pouco”, diz.
Foi na confeitaria que ela encontrou uma alternativa. Começou com bolos, depois investiu em mousses, tortas e doces de pote. Mas foi o morango do amor que virou o divisor de águas. “Uma amiga perguntou se eu conseguiria fazer, porque não estava achando para comprar. Resolvi tentar. Fiz primeiro para minha família e gravei o processo. Postei nas redes e deu certo de primeira.”
A repercussão foi instantânea. Os pedidos começaram a chegar e o doce passou a garantir uma renda extra constante. “Graças a Deus os lucros estão chegando, os clientes estão adorando. Realmente se tornou febre”, conta. Segundo ela, ao contrário dos outros produtos, os morangos do amor não precisam nem de divulgação. “Eu não preciso mais oferecer. O estoque não para, é o tempo todo fazendo novo.”
A renda obtida com os doces permitiu que Anny reduzisse os plantões na área da saúde e passasse a investir com mais tranquilidade nos estudos. “Eu uso esse dinheiro para custear as despesas da faculdade. Não pago mensalidade por ser bolsista, mas tem livro, passagem, alimentação. Estava difícil. Esse trabalho flexibilizou meus horários e mudou minha rotina.”
Para ela, o impacto foi transformador e coletivo. “Veio para salvar boa parte das confeiteiras do Brasil. Muita gente estava prestes a fechar as portas. Agora os pedidos voam, o mercado é outro”, afirma.
“Nunca vi uma febre dessas”

Se para quem está começando agora o morango do amor já se tornou um alívio financeiro, para empreendedoras experientes a sensação é de surpresa diante da proporção que o doce ganhou. Adriana Tenório, de 43 anos, é empresária do ramo de confeitaria há quase duas décadas. Mesmo com toda essa bagagem, confessa: nunca viu uma movimentação como a atual.
“Tínhamos acabado de sair da correria das festas juninas e estávamos no ritmo normal do dia a dia. Relutei um pouco para começar a fazer o morango porque já imaginava a loucura que seria. Mas não fazia ideia de que tomaria essa proporção”, conta.
A produção começou há poucos dias, mas os efeitos foram imediatos. Só em um único dia, Adriana vendeu 130 unidades do doce. E mais: clientes novos chegaram por todos os lados. “Muita gente conheceu nosso Ifood pela primeira vez por causa do morango”, revela.
A alta demanda, no entanto, também trouxe desafios. O principal deles: a escassez da matéria-prima. “A procura está tão grande que está faltando até fornecedor de morango”, diz.
Adriana ainda não sabe até quando a febre vai durar. Mas uma coisa é certa: mesmo para quem tem longa experiência no mercado, o morango do amor virou um caso à parte. “Nunca vi uma febre dessas.”