Psicóloga de formação, sindicalista e militante política, Dafne Orion tem construído sua trajetória pública em Alagoas a partir do cuidado com as pessoas, unindo escuta, empatia e o desejo de transformação social. Neste domingo (6), ela disputa a presidência do Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores (PT). Caso seja eleita, ela será a primeira mulher a comandar o partido em Alagoas. Ao todo, mais de 38 mil filiados ao PT em Alagoas estão aptos a votar no Processo de Eleições Diretas (PED), sendo mais de 14 mil apenas em Maceió.
Afeto como base de valores coletivos

À Eufêmea, Dafne Orion recorda com nitidez as noites de Natal da infância. Conta que o pai sempre dava um jeito de manter viva a fantasia do Papai Noel, mesmo em tempos de dificuldade. Já a mãe insistia que a filha deveria se dedicar aos estudos e não à cozinha.
Para Dafne, essas lembranças vão além do afeto: são a base de sua visão de mundo. “Me sentia superprotegida. Isso hoje me dá a sensação de que o cuidado com as pessoas é algo que nos fortalece coletivamente.”
Dafne construiu sua trajetória a partir da escuta e do cuidado. Ela conta que sempre gostou de conversar e, principalmente, de ouvir as pessoas falarem sobre suas histórias e visões de mundo. Foi esse interesse, afirma, que a motivou a escolher a Psicologia como profissão: uma forma de compreender o indivíduo sem perder de vista o coletivo.
Do movimento sindical à política partidária

A aproximação de Dafne com a política aconteceu aos poucos, primeiro como militante de causas sociais e estudantis; depois, de forma mais direta, por meio do trabalho no Sindicato dos Urbanitários de Alagoas. “Foi aí que comecei a ter um olhar mais político sobre o mundo”, explica.
O momento decisivo para sua filiação ao Partido dos Trabalhadores veio com o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Ao acompanhar o desenrolar dos acontecimentos, Dafne viu no julgamento — conduzido majoritariamente por homens — um ponto de inflexão em sua trajetória. “Aquelas longas horas do depoimento de Dilma no Senado me inspiraram. Decidi que não me era mais suficiente só fazer política apartidária.”
A decisão, no entanto, também trouxe enfrentamentos. “Encarei pela primeira vez toda a maldade que a disputa por poder pode acarretar. O abandono de princípios me marcou”, diz. Ainda assim, ela ressalta que a solidariedade construída nas relações políticas também tem força.
A escuta como prática política
A militância de Dafne caminha lado a lado com sua prática como psicóloga. Ela destaca a importância da psicanálise em sua própria trajetória e diz que foi um marco em sua vida. “Foi a melhor decisão de cuidado comigo mesma. Se conhecer, reconhecer os próprios limites e ressignificar experiências foi fundamental para me encontrar no mundo.”
Hoje, ela encontra força nas relações afetivas que construiu: na família, nos amigos, nas filhas de quatro patas, no esposo e no enteado. “Encontro descanso e refúgio nesses vínculos”, afirma.
A escuta, que sempre esteve presente em sua formação como psicóloga, permanece como uma das principais ferramentas de sua atuação tanto na vida pessoal quanto na política. Como ela mesma resume: “Acredito muito no poder da empatia e do respeito às pessoas.”