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Fala, Bolacheira!: evento sáfico une rodas de conversa, shows e muita resistência em Maceió

Você já foi chamada de “bolacheira”? Já sentiu o peso de ter sua existência resumida a um apelido carregado de deboche, raiva ou até silêncio? E quantas vezes precisou respirar fundo antes de dizer, de novo, que amar outra mulher não é desvio, não é fase, muito menos um favor?

Em Alagoas, mulheres lésbicas, bissexuais, trans e não binárias que se relacionam com mulheres resolveram ressignificar um termo que tantas vezes foi usado para silenciar: transformaram o deboche em potência. Assim nasceu o Fala, Bolacheira!, um evento gratuito que chega no dia 2 de agosto, às 18h30, no Espaço Carambola Lab, em Maceió, como um espaço de troca, voz e escuta.

Ressignificar o termo bolacheira

“O Fala, Bolacheira! nasce da urgência de colocar nossos corpos e nossas vozes na pauta de gênero local. O evento propõe tensionar os sentidos que nos foram impostos: desnaturalizar violências, ocupar discursos, virar o jogo da linguagem cisheteronormativa. Ressignificar o termo ‘bolacheira’ é uma entre tantas estratégias de enfrentamento, uma palavra que antes nos feria, agora nos afirma”, conta à Eufêmea Cíntia Ribeiro, uma das organizadoras do evento.

Com as inscrições esgotadas em menos de uma semana, o evento promete uma programação diversa: rodas de conversa, apresentações artísticas e shows. A curadoria reuniu mulheres negras, periféricas e dissidentes em suas trajetórias, saberes e práticas de resistência que se encontram e se fortalecem no mesmo espaço.

“A ideia do evento nasceu de uma conversa que tive com Carmen Lúcia Dantas e a fotógrafa Fernanda Piccolo, do projeto Documentadas, sobre uma das versões locais para a origem do termo bolacheira como sinônimo de mulher que ama mulher. A partir dessa provocação, entendemos que era hora de transformar o xingamento em afirmação”, explica Cíntia.

Um espaço de escuta, afirmação e enfrentamento

De acordo com ela, o evento se constrói como um espaço de troca entre mulheres que vivem a dissidência nos corpos e nas escolhas. “Não aceitamos mais a invisibilidade que historicamente nos silenciou, nas famílias, no trabalho, na história e na vida pública. Nossa existência não é concessão”, afirma Cíntia.

Ao longo da noite, as participantes irão refletir sobre temas como saúde mental, autocuidado, independência econômica, envelhecimento sáfico, memória geracional e produção de saberes. “A proposta é tensionar os sentidos que nos foram impostos, desnaturalizar violências e virar o jogo da linguagem cisheteronormativa”, completa Cíntia.

As rodas de conversa contam com nomes como Débora Masmann, Regina Lopes, Fernanda Piccolo, Gildete Ferreira, Ticiane Simões, Nefertiti Souza, Gracielle Oliveira, Carmen Dantas, Luiza Leal e Clariar. Os shows ficam por conta de Mary Alves e Fernanda Guimarães.

Para Cíntia, o evento também é um gesto político diante de um cenário marcado por lesbofobia e violência. Ela acredita que o diálogo e a articulação política são caminhos para pensar em estratégias possíveis. “O evento é uma tentativa de nos vermos, nos escutarmos e pensarmos estratégias de enfrentamento, das microagressões ao lesbocídio”, destaca.

Sobre a realização

O projeto “Fala, Bolacheira!” é realizado com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), do Governo Federal, por meio do Ministério da Cultura (MinC), com operacionalização da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa de Alagoas (Secult). A produção é assinada pelo Pirambeba Lab, Perereca do Brejo Produções e o projeto Documentadas. Apoiam: Carambola Lab, Piracema Studio, Festa das Sáficas, Eufêmea, Dago Produções, American Crime Fitness e Instituto Casa Delas.

Confira a programação completa

O Fala, Bolacheira! propõe uma série de rodas de conversa e apresentações artísticas com mulheres que articulam saberes, territórios e resistências. Conheça os temas e participantes:

BOLACHEIRA – Reinvenção cotidiana dos sentidos que silenciam
A expressão bolacheira atravessa gerações como marca da lesbofobia. A roda propõe escuta coletiva sobre os sentidos que tentam nos apagar da história.
Participação: Cíntia Ribeiro – mulher preta, doutora e mestra em Linguística (UFAL), pesquisadora de raça, gênero e desinformação. Ativista e organizadora do evento.

Foto: Cortesia à Eufêmea

BOLACHEIRAS PENSANTES: Militância lésbica, documentação e produção de saberes
Reflexão sobre como a militância na e pela ciência tensiona a produção de conhecimento e rompe com a neutralidade acadêmica.
Participações:
– Débora Masmann – professora da UFAL, doutora pela USP e pós-doutora pela UNICAMP, atua com foco em gênero, raça, diversidade e patrimônio.

Foto: Cortesia à Eufêmea


– Fernanda Piccolo – fotógrafa, fundadora do projeto Documentadas.

Foto: Cortesia à Eufêmea


Mediação: Gildete Ferreira – assistente social, doutoranda em Serviço Social (UFAL), mulher negra, lésbica, feminista e mãe.

Foto: Cortesia à Eufêmea

AUTOCUIDADO E SAÚDE MENTAL – Em perspectivas ampliadas
O autocuidado como prática coletiva e política, considerando as dimensões sociais, econômicas e afetivas que atravessam corpos dissidentes.
Participações:
– Regina Lopes – socióloga, pesquisadora e consultora em políticas públicas nas áreas de gênero, raça e segurança.

Foto: Cortesia à Eufêmea


– Cíntia Maria – psicóloga, poeta e mestra em Ensino na Saúde (UFAL), atua no SUS e na rede municipal de educação.

EXISTÊNCIAS DISSIDENTES – Inclusão e independência econômica
Como resistir à norma heteronormativa por meio do trabalho, da arte e da coletividade.
Participações:
– Ticiane Simões
– Nefertiti Souza – travesti, artista e pesquisadora da cena ballroom alagoana.

Foto: Cortesia à Eufêmea


– Gracielle Oliveira – mulher lésbica e surda, presidente da Associação dos Surdos de Alagoas (ASAL).

Foto: Cortesia à Eufêmea

LINHA DO TEMPO DAS BOLACHEIRAS EM ALAGOAS – Memória, presente e futuro
Painel intergeracional sobre as trajetórias sáficas em Alagoas, do passado à cena atual.
Participações:
– Carmen Dantas – museóloga, professora aposentada da UFAL, autora e referência na cultura alagoana.

Foto: Cortesia à Eufêmea


– Luiza Leal – artista audiovisual, fundadora da Piracema Studio e da Mostra Mulheres+ no Cinema.

Foto: Cortesia à Eufêmea


– Clariar – multiartista, DJ e produtora da Festa das Sáficas, estudante de Música (UFAL).

SHOWS DE ENCERRAMENTO
Mary Alves – cantora e compositora nascida no Jacintinho, com repertório que mistura reggae, rap, soul e ritmos afro-brasileiros.
Fernanda Guimarães – artista com quase três décadas de carreira, dedicada à música autoral e à valorização da cultura alagoana.

Foto de Rebecca Moura

Rebecca Moura

Jornalista formada pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.
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