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“Olha como ficou o rosto dela”: quando o sensacionalismo lucra com a dor das mulheres

Vocês também devem ter ficado em choque com as imagens da brutal agressão — ou melhor, tentativa de feminicídio — sofrida por uma mulher dentro de um elevador, em Natal. Foram mais de 60 socos que o agressor, Igor Eduardo Pereira Cabral, 29 anos, deu nela. A cena é aterrorizante e difícil até de descrever (não recomendo que vejam o vídeo porque ele desperta muitos gatilhos).

Mas o que me causou ainda mais revolta foi o que encontrei durante uma pesquisa rápida nas redes. Vários perfis publicando o rosto da vítima, totalmente desfigurado, acompanhados de chamadas como: “Olha como ficou o rosto da mulher após a agressão”.

Esses perfis não estão preocupados com justiça, nem com conscientização. Estão preocupados com engajamento, cliques e curtidas, mesmo que, para isso, transformem a dor de uma mulher em espetáculo. É um “jornalismo” sensacionalista… Aliás, nem sei se posso chamar isso de jornalismo. Porque, hoje em dia, qualquer pessoa cria um perfil, espalha qualquer informação e lucra mais do que muitos veículos de comunicação sérios.

Não se enganem: o que aconteceu com essa vítima não é um caso isolado. Nem a agressão, nem a forma como parte da mídia e dos criadores de conteúdo exploram corpos femininos marcados pela violência para gerar audiência. Esse tipo de cobertura não informa, não acolhe, não denuncia. Expõe, revitimiza e fere.

E digo mais: depois da publicação com um título sensacionalista, ainda temos que lidar com os comentários de pessoas que se acham especialistas no assunto. Comentários baseados no senso comum, alguns carregados com a palavra de Deus, outros que culpabilizam a mulher, outros que querem entender o que aconteceu como se precisassem de mais detalhes para validar a violência. Chega a ser adoecedor ficar lendo esses comentários (não gosto, mas de vez em quando preciso).

Violência contra a mulher não é entretenimento. Mostrar o rosto da vítima desfigurado não é conteúdo para viralizar. Acredite: não fazem isso por empatia. O foco precisa ser o agressor: Igor Eduardo Pereira Cabral, que desferiu mais de 60 socos contra uma mulher indefesa dentro de um elevador e que precisa ser responsabilizado com todo o rigor da lei.

É ele quem deve estar em destaque. É o nome dele que precisa ser lembrado, investigado, julgado e punido. Não podemos esquecer e cobrar que ele seja responsabilizado. O lugar de agressor é na cadeia e é lá que esperamos que ele fique.

Eu espero, de todo o meu coração, que a vítima tenha acolhimento, apoio psicológico, proteção e justiça. Que ela não precise reviver essa dor todas as vezes que abrir as redes sociais. Que ela seja tratada com o respeito que merece e não como manchete, não como imagem, mas como mulher, como ser humano.

Estou no Instagram: @raissa.franca

Foto de Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.
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