A frase “mãe é tudo igual, só muda de endereço” esconde um problema profundo. Porque o que se romantiza como “força natural da mulher” é, na verdade, sobrecarga disfarçada. E quando essa mulher é também gestora, empreendedora, líder de equipe — essa carga dobra, às vezes triplica.
Eu sou mãe. E sou CEO. E posso te dizer com absoluta certeza: conciliar maternidade e gestão não é dom, nem superpoder. É um esforço constante, cansativo e muitas vezes solitário, que só é possível porque a gente não tem escolha. E que, muitas vezes, acontece sem rede de apoio, sem políticas públicas, sem estrutura corporativa e com julgamento social pesado.
A verdade é que o empreendedorismo materno é muito menos sobre “liberdade” do que vendem nos posts inspiracionais — e muito mais sobre sobrevivência.
Acordar cedo para fazer café da manhã e responder e-mail ao mesmo tempo. Fazer reunião com investidor escondendo o barulho do desenho animado ao fundo. Negociar contrato com uma criança no colo. Desligar a câmera do pitch porque seu filho está doente e você está com o olho inchado de cansaço. Ouvir que você “é menos disponível” por ser mãe. Ou que está se aproveitando do “benefício” de fazer home office.
Essas cenas não são exceções. São a rotina de milhares de mulheres que ousaram conciliar liderança e afeto, negócios e cuidado, maternidade e inovação. E ainda assim, seguimos sendo tratadas como exceção ou como risco — em vez de referência.
A ideia de que mulheres são “naturalmente multitarefas” é uma armadilha. Porque ela transfere o peso da estrutura para o corpo feminino. Ela diz que somos nós que temos que dar conta. Que é o nosso perfil que “se encaixa” nisso tudo. Mas a verdade é que não somos nós que precisamos mudar — é a estrutura que precisa ser redesenhada.
Quantas aceleradoras de startups têm espaço infantil? Quantos eventos de tecnologia oferecem suporte real para mães? Quantas empresas valorizam trajetórias com pausas para cuidar de filhos como parte da competência, e não como falha de carreira?
Se queremos de fato um mercado mais inovador, precisamos de mais mães criando tecnologia, ocupando o topo das organizações, sendo investidas, ouvidas e respeitadas. E isso só vai acontecer se houver estrutura — não flores no Dia das Mães.
Na Sandora, escolhi construir uma empresa com esse olhar. Não porque é mais bonito — mas porque é mais justo. Porque liderar com afeto não me faz menos estratégica. Me faz mais humana, mais sensível, mais conectada. E porque colocar o cuidado no centro não é fragilidade. É força.
Conciliar maternidade e gestão é um ato político. É um enfrentamento diário às estruturas que nos dizem que “não dá”. É uma escolha pela resistência — e pela reinvenção.
E que bom que estamos aqui, reescrevendo essa história.
Com afeto, com força e com propósito.
Para conhecer mais sobre como criamos inovação com lente de gênero, acesse:
www.sandora.me.
Cuidar também é revolucionar.