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Semana passada, mais uma denúncia chegou até nós. A pessoa que nos escreveu disse que não sabia mais a quem recorrer, nem a quem denunciar e que alguém, em algum momento, havia dito: “fale com o pessoal da Eufêmea, talvez elas possam te ajudar.” E a verdade é que essa não é a primeira vez. As pessoas não sabem como denunciar. Nem por onde começar. Eu acredito que a informação salva vidas e é justamente por isso que precisamos falar mais sobre isso. E eu vou te mostrar o porquê.
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, divulgado na última quinta-feira (24) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), mostrou que Alagoas (estado onde a Eufêmea está concentrada) teve a maior redução de mortes violentas do Nordeste. Mas, apesar da queda geral, os casos de feminicídio e as tentativas de assassinato contra mulheres aumentaram em relação a 2023.
É claro que precisamos de políticas públicas para enfrentar a violência de gênero. Isso é urgente e inegociável. Mas, na minha experiência como jornalista e fundadora de um portal de notícias voltado para mulheres, percebo que há algo essencial que muita gente está esquecendo: a informação salva vidas.
Como assim, Raíssa? Lembra do caso que citei no início deste texto? Ele está longe de ser exceção. Muita gente simplesmente não sabe o que fazer diante de um caso de violência contra mulheres. Não sabe reconhecer que é violência. Não sabe onde denunciar, nem a quem recorrer. Não sabe quais são os caminhos. E o pior: às vezes, acha que não existe nenhum.
E isso vale também para as vítimas. Muitas mulheres permanecem em relações violentas por diversos motivos: dependência emocional, financeira, filhos, medo. Mas há outro fator que precisa ser dito em voz alta: essas mulheres também são vítimas de desinformação. Acreditam que não têm saída, que não há ajuda, que denunciar é inútil. Caem no discurso do senso comum de que “não vai dar em nada” e, muitas vezes, acreditam no que os próprios agressores dizem.
Já ouvi de uma mulher que o agressor afirmava que, se ela saísse de casa, perderia o Bolsa Família e a guarda dos filhos. Isso não procede. Mas ela acreditou. E é exatamente por isso que a informação precisa circular. Porque enquanto a mentira se espalha com facilidade, a verdade segue encontrando obstáculos.
Como jornalista e estudiosa das questões de gênero, eu preciso defender com toda convicção, o quanto acredito que precisamos investir para que a informação chegue a todas. É nosso papel mostrar, com clareza e responsabilidade, que essas mulheres têm caminhos. Que existe informação verídica, acessível, e que sim, é possível se libertar.
É preciso dizer o que, muitas vezes, parece óbvio, mas que não está claro para quem vive sob medo: como denunciar, a quem recorrer, o que fazer. É preciso mostrar que a segurança pública também trabalha, sim, e que há profissionais comprometidos em garantir proteção. Também é nosso papel apontar os avanços nas leis, nas políticas, nos mecanismos de apoio porque eles existem. E quando a informação certa encontra quem precisa, ela pode ser o primeiro passo para romper o ciclo da violência.
Não só para as vítimas, mas para toda a sociedade. Para quem presencia uma violência e não sabe como agir. Para quem convive com uma mulher em situação de risco e não entende como pode ajudar. A informação precisa circular entre todos, porque o enfrentamento à violência de gênero não é responsabilidade apenas de quem sofre: é de todos nós.
Aqui na Eufêmea, temos feito esse esforço diariamente. Respondemos dúvidas, explicamos direitos, mostramos os caminhos, divulgamos contatos de apoio, explicamos como funciona a rede de proteção, denunciamos falhas e reconhecemos os avanços. É o nosso papel. É o que acreditamos ser nossa missão como agência de jornalismo com foco nas mulheres.
Mas isso não pode depender só da Eufêmea. Nem de uma ou duas iniciativas isoladas. É preciso que escolas, universidades, instituições públicas, lideranças políticas, veículos de imprensa e influenciadores se comprometam com essa pauta.
É preciso que a informação esteja nas ruas, nas redes sociais, nos espaços de saúde, nas comunidades, nos ônibus, nos centros religiosos, nas empresas. Porque a violência contra a mulher acontece em todos esses lugares e é lá que também deve chegar o conhecimento que salva.
Estou no Instagram: @raissa.franca