O número de óvulos congelados no Brasil cresceu 96% entre 2020 e 2023, passando de 56.710 para 111.413, segundo dados do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio), da Anvisa. Mais do que um procedimento médico, o congelamento de óvulos tem sido uma escolha para mulheres que desejam postergar a maternidade e ter mais autonomia sobre seus próprios corpos. Entre os motivos que impulsionam essa decisão estão o foco na carreira, a ausência de rede de apoio e a liberdade de escolha.
Como funciona o congelamento de óvulos?
A técnica de criopreservação de oócitos — ou congelamento de óvulos — permite coletar e armazenar óvulos maduros para uso futuro. O processo começa com a estimulação ovariana controlada, que dura de 10 a 12 dias.
“Nesse período, a mulher usa medicamentos hormonais para estimular o crescimento de vários folículos. O acompanhamento é feito com exames hormonais e ultrassons seriados”, explica a ginecologista Eugênia Câmara, especialista em reprodução assistida.

Antes disso, é feita uma avaliação da reserva ovariana, o chamado “check-up da fertilidade”, que ajuda a definir a dosagem hormonal ideal.
Quando os folículos atingem o tamanho adequado, os óvulos são coletados por meio de uma punção ovariana, um procedimento simples, feito com sedação. “Em laboratório, os óvulos maduros passam por análise e são congelados com a técnica de vitrificação, que garante sua preservação com segurança”, diz a médica.
Depois disso, ficam armazenados em tanques de nitrogênio líquido por tempo indeterminado, podendo ser usados quando a mulher decidir engravidar.
A médica destaca que a técnica é segura e mais eficiente que métodos antigos, além de permitir que a mulher organize sua maternidade com mais liberdade e menos pressão sobre o tempo.
Autonomia para escolher a maternidade
A ginecologista Eugênia Câmara define o congelamento de óvulos como “uma ferramenta que proporciona autonomia reprodutiva”. E é justamente essa liberdade de escolha que tem levado mais mulheres a optarem pelo procedimento.
Segundo a médica, o perfil mais comum é de mulheres entre 30 e 38 anos, que desejam focar na carreira, no desenvolvimento pessoal ou que ainda não encontraram alguém com quem queiram compartilhar a maternidade. Também é comum entre aquelas que já tiveram o primeiro filho por volta dos 35 anos e querem adiar uma nova gestação.
“A técnica permite que a mulher decida, com mais liberdade, quando e com quem deseja engravidar sem a pressão do tempo ou da queda natural da fertilidade”, reforça Eugênia.
O congelamento, além de permitir o adiamento da maternidade, é uma alternativa recomendada para mulheres jovens com condições que podem afetar a fertilidade, como a endometriose. No entanto, a falta de informação ainda é um obstáculo.
Alternativa para mulheres mais jovens

Entre 2020 e 2023, o número de óvulos congelados por mulheres com menos de 35 anos quase dobrou: saltou de 23.033 para 45.203, segundo dados do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio), da Anvisa.
“Muitas meninas não sabem que certos problemas podem comprometer sua fertilidade futura e não recebem essa orientação durante as consultas ginecológicas. Quando percebem, já enfrentam dificuldades até mesmo para fazer essa reserva ovariana”, alerta Caroline Guedes, enfermeira obstétrica e especialista em reprodução humana.
Segundo a especialista, o ideal é realizar o congelamento antes dos 35 anos, quando a qualidade dos óvulos ainda é alta. Isso reduz os riscos genéticos e aumenta as chances de uma gravidez bem-sucedida no futuro.
O que considerar antes de optar pelo congelamento
Apesar dos benefícios, a decisão pelo congelamento exige reflexão. Eugênia Câmara ressalta que o procedimento aumenta as chances de engravidar, mas não oferece garantias. Manter expectativas realistas é fundamental.
Outro ponto importante é o cuidado emocional durante o processo. Ter apoio psicológico, uma rede de apoio e uma boa relação com a equipe médica ajuda a tornar essa jornada mais leve.
“O congelamento de óvulos é muito mais do que uma técnica: é uma forma de respeitar seu tempo, planejar com autonomia e manter vivo o seu projeto de maternidade”, afirma Eugênia.