A história da alagoana Chelly Amâncio não começa com câmeras profissionais ou estratégias de branding. Aos 17 anos, conseguiu seu primeiro emprego formal na recepção da Foto Center, no Shopping Farol, em Maceió. Ali, entre revelações de filmes e restaurações de fotos antigas, aprendeu a lidar com a transição da fotografia analógica para a digital.
O que poderia ter sido apenas um trabalho de juventude acabou se tornando o ponto de partida de uma trajetória marcada por descobertas, quedas e recomeços. Hoje, Chelly é fotógrafa e analista de marca pessoal, mas até chegar aqui percorreu caminhos que testaram sua resiliência, moldaram sua visão de mundo e deram sentido ao propósito que carrega no presente.
“Na Foto Center, percebi que a fotografia despertava muito mais do que lembranças. Ela ativava emoções e reforçava como as pessoas queriam ser lembradas”, diz à Eufêmea.
Chelly cresceu em meio a álbuns fotográficos organizados com carinho pela família materna. Os almoços de domingo na casa do avô eram sempre acompanhados da abertura dos álbuns, momento de resgatar histórias e fortalecer laços. “Foram esses encontros que me ensinaram desde cedo o poder que uma fotografia tem de conectar pessoas e eternizar memórias”, relembra.

O trabalho veio cedo
A separação dos pais fez com que Chelly tivesse que assumir responsabilidades ainda na adolescência. Conciliava escola e emprego para ajudar em casa e, aos 16 anos, recebia apenas R$ 80 mensais em uma lanchonete de família. “Foi um período em que aprendi a valorizar cada pequeno esforço e cada conquista”, recorda.
Aos 17 anos, Chelly começou a trabalhar como recepcionista em uma loja de fotografia. Ali, aprendeu a revelar filmes, utilizar o Photoshop e restaurar fotos antigas, acompanhando de perto a transição da fotografia analógica para a digital.
Pouco tempo depois, deixou o emprego para se dedicar integralmente aos serviços da Igreja Católica, evangelizando jovens. Nesse período, usava a fotografia não apenas como registro, mas também como forma de consolidar sua presença e marca pessoal dentro da comunidade.
A virada empreendedora
Em 2012, uniu outra paixão — a culinária — à vida profissional. Viajou a São Paulo para fazer um curso de comida congelada e, no ano seguinte, abriu o projeto “La Cucina” com três amigas. A iniciativa funcionou por quatro anos, mas terminou em falência. A perda, segundo ela, foi dolorosa, mas essencial.
“Naquela época, fui inexperiente. Minha pouca visão sobre empreendedorismo e posicionamento resultou no fracasso do negócio, mas os aprendizados foram fundamentais para minha evolução profissional e pessoal”, reconhece.
Em 2017, Chelly ingressou no DMTT (antiga SMTT) e, em apenas três meses, assumiu um cargo de liderança. Ali, se envolveu diretamente com pautas de acessibilidade e defesa dos direitos das pessoas com deficiência. Em 2019, tornou-se conselheira do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência.
O encontro com o branding

A pandemia de 2020 foi o estopim de uma nova virada. Buscando renda extra, Chelly se matriculou em um curso técnico em Marketing Digital. O contato com o conceito de Branding abriu horizontes. Ela decidiu investir em uma câmera profissional, oferecer ensaios a preços acessíveis e até trabalhos gratuitos para ganhar experiência.
“Foi nesse período que entendi o potencial da fotografia como ferramenta estratégica para fortalecer marcas pessoais”, afirma.
Pouco a pouco, estruturou um método próprio de trabalho, que hoje divide em três etapas: diagnóstico de marca pessoal detalhado (BrandYou 360º), alinhamento da identidade visual e ensaio fotográfico estratégico.
Clareza, leveza e propósito
Em 2022, fundou oficialmente Chelly Criativa, ao lado do marido, Anderson, também fotógrafo. No ano seguinte, inaugurou o estúdio físico em Maceió.
Já em 2025, Chelly tomou uma das decisões mais importantes de sua vida: deixou o cargo comissionado no serviço público, onde esteve por oito anos, para se dedicar integralmente ao negócio. No mesmo ano, conquistou a certificação como analista de marca pessoal pela Personal Branding Academy e passou a aplicar a metodologia BrandYou360®, referência internacional na área.
“As inseguranças fazem parte. No início, também me senti pressionada a seguir padrões prontos que não refletiam quem eu era. Precisei romper a barreira da busca por aprovação externa e entender que a marca pessoal é essência alinhada à percepção. Hoje, ajudo minhas clientes a enxergarem isso com clareza, leveza e estratégia”, explica.
Também em 2025, a Chelly Criativa passou por um processo de rebranding e se transformou na Raiz Produtora, ampliando sua atuação e fortalecendo sua identidade no mercado. Hoje, o negócio reúne fotografia, vídeo e branding em um só espaço, com foco em traduzir a essência de cada cliente em estratégias visuais e narrativas que conectam e geram valor.
O que a fotografia representa
Para Chelly, a fotografia nunca foi apenas estética. “A fotografia é a tradução visual da essência de uma pessoa. É o canal que conecta o que a cliente é por dentro com o que o público vê e percebe”, afirma.
Esse olhar é o que norteia sua missão atual: ajudar mulheres a construírem marcas pessoais sólidas, autênticas e alinhadas com seus valores.
“Antes de pensar em cores, logotipos ou estratégias de marketing, é preciso começar pelo autoconhecimento. É esse passo que dá força e autenticidade para qualquer comunicação”, aconselha.