Colabore com o Eufemea
Advertisement

De 8% para 30%: o que o crescimento das mulheres nas startups realmente significa

Foto: Arquivo Pessoal

Uma notícia chamou minha atenção recentemente: segundo dados do Sebrae, a participação feminina nas startups brasileiras saltou de 8% para 30% em apenas um ano. Uma alta significativa — e que merece ser celebrada, analisada e, principalmente, sustentada.

Sim, há mais mulheres fundando negócios inovadores. E isso não é apenas tendência — é reação.

Reação a décadas de exclusão, subestimação e silenciamento nos ambientes de tecnologia e inovação.

Por muito tempo, nos fizeram acreditar que esse universo não era para nós. Não porque faltava capacidade, mas porque sobravam barreiras: técnicas, culturais, emocionais e financeiras.

Desde o apagamento das pioneiras na ciência, passando pelas salas de aula onde meninas eram desencorajadas a programar, até os pitches em que se questiona se uma mulher “dará conta” de liderar uma equipe — principalmente se ela for mãe, preta ou periférica.

Eu sou CEO da Sandora, uma startup que nasceu justamente para tensionar esse modelo. E não foi fácil chegar até aqui. Já participei de editais em que era a única mulher a apresentar – e para uma banca de avaliadores 100% masculina. Já ouvi sugestões de que eu deveria “chamar um homem para explicar a tecnologia”. Já tive minha fala interrompida. Já fiz reunião com meu filho no colo e percebi olhares atravessados.

Por isso, quando vejo esse dado — de 8% para 30% — não vejo um milagre estatístico. Vejo mulheres abrindo caminho com o próprio corpo. Empurrando a porta, mesmo sem convite. Empreendendo como ato político, como forma de existir e resistir. Mas é preciso ter cuidado com a leitura desse crescimento. Mais mulheres nas startups não significa que o jogo está ganho.

Significa que estamos jogando — e vencendo rodadas importantes. Mas a estrutura continua desigual. O acesso a capital ainda é desproporcional. A taxa de desistência continua maior entre mulheres. E o custo emocional, logístico e familiar de empreender ainda recai, em grande parte, sobre nossos ombros.

O crescimento da nossa presença precisa ser acompanhado de ambientes mais inclusivos, políticas de apoio, redes de acolhimento e reconhecimento real.

Porque não basta entrar. É preciso permanecer, crescer e liderar.

E é por isso que espaços como a Eufêmea e iniciativas como a Sandora, existem: para mostrar que inovação também se faz com batom vermelho, com afeto, com escuta e com estratégia. E que, sim, é possível transformar a cultura de negócios sem abrir mão de quem somos.

Estamos só começando.

Somos parte dessa estatística. Mas somos, sobretudo, parte da mudança.

Foto de Meline Lopes

Meline Lopes

Jornalista, advogada, especialista em comunicação e em marketing digital. Atuou como repórter de televisão durante 9 anos em diversas emissoras do Brasil. É repórter do Eufêmea.
plugins premium WordPress