Eu escrevo quando dói, mas também escrevo quando me emociono ou quando quero que as pessoas enxerguem algo além do óbvio. Talvez, mesmo já tendo falado sobre isso, eu ainda não tenha conseguido expressar tudo o que senti. É por isso que escrevo hoje. Para falar da Laura. Uma jovem de cabelos ruivos, óculos vermelhos, fã de Michael Jackson, fluente em espanhol e que também é autista.
Conheci Laura na sexta-feira, quando ela integrou a minha equipe no primeiro Hackathon da Prefeitura de Maceió. Logo no início, ela usava um fone de ouvido e fez questão de se desculpar, dizendo que não queria parecer desrespeitosa com as pessoas do evento.
Naquele momento, Nicolly — uma mulher autista que estava trabalhando na organização — interveio e disse a Laura que ali não havia desrespeito, que aquele era um espaço seguro e cuidadoso para ela. E, em seguida, entregou-lhe um abafador de ruídos, abraçando-a dizendo que ela também era uma pessoa com autismo e que toda a equipe dela sabia, respeitava e a ajudava.
Vi Laura cair aos prantos. No início, não entendi. Mas logo veio a explicação entre lágrimas: “Eu não sou tratada com cuidado assim por onde passo. Nem onde estudei, nem em outros lugares…”. Segurei minhas lágrimas ali. Mas quando cheguei em casa, desabei.
A sensação que ficou foi uma só: Laura só queria ser cuidada. Queria ser olhada com respeito. No entanto, ainda tão jovem, já carrega marcas e traumas que não deveria. Tudo isso apenas pelo fato de ser quem é. Senti tanta vergonha do mundo, das pessoas!
O sábado foi intenso. Eu estava exausta com o ritmo do Hackathon: cansada, estressada, com sede, sem tempo nem para ir ao banheiro. Mentalmente, eu já era um caco.
Mas bastava olhar para Laura — que sorria, fazia amizades, puxava conversa com todo mundo e dizia o tempo todo que queria ajudar ainda mais a nossa equipe — para eu perceber algo. Eu queria que a nossa equipe desse certo não por mim, mas por ela.
O resultado chegou no domingo: conquistamos o segundo lugar. Éramos a única equipe 100% feminina e, curiosamente, nossa solução era voltada para o público masculino. Foram muitos momentos de esforço, dúvidas e quebra de cabeça para que a ideia ficasse de pé. Mas, em meio a tudo isso, havia sempre o otimismo da Laura, que repetia com convicção: “a gente vai ganhar”.
Ver a Laura sendo aplaudida foi uma das cenas mais marcantes da minha vida. Talvez vocês não tenham noção do que eu vi, mas ali, naquele instante, eu enxergava tudo com um olhar tão bonito, quase mágico. Aquele espaço inteiro chamava o nome dela, sorria, vibrava pela conquista.
Mas o que mais me emocionou foi quando encontrei os olhos da mãe de Laura. Eles estavam cheios de lágrimas, e sem que ela dissesse uma única palavra, eu entendi tudo. Aquele olhar me dizia que era lindo ver a filha brilhar, ser reconhecida e amada simplesmente por ser quem ela é. Imagino que essa cena jamais sairá da cabeça de uma mãe que já contou ter enfrentado tantos preconceitos ao lado da filha. Naquele dia, ela viu Laura vencer.
Talvez a própria Laura não tenha noção do quanto transformou algo dentro de mim. Talvez ninguém entenda porque, até agora, eu ainda choro sempre que lembro dessa cena. Mas eu sei: havia algo nela que me atravessou. Laura brilhou naquele palco, mas o que ficou em mim é a certeza de que quando alguém é verdadeiramente acolhido, o mundo inteiro pode mudar à sua volta. E eu quero carregar essa lição para sempre.
Obrigada, Laura. Eu quero que o mundo te conheça.