Aos 15 anos, Clarice Berto já é um nome de destaque no jiu-jitsu. A atleta soma mais de 100 medalhas e títulos importantes, como campeã brasileira, sul-americana e europeia, além de hexacampeã alagoana. Em outubro, viaja para a Flórida, nos Estados Unidos, onde disputará mais um título. No entanto, Clarice ainda enfrenta uma grande dificuldade: a falta de patrocínio. Muitas vezes, precisa recorrer a rifas e à ajuda da família para custear viagens e inscrições em campeonatos, como é o caso dessa viagem para a Flórida.
O primeiro contato de Clarice com o esporte foi aos 3 anos, quando começou a praticar natação. Depois, experimentou a dança e a ginástica rítmica, mas foi em uma aula de jiu-jitsu que seu coração bateu mais forte. A estreia aconteceu em uma aula experimental, acompanhada da mãe e do irmão.

A mãe, Aline Berto, lembra que foi amor à primeira vista. Depois da primeira aula, a pequena insistiu para continuar praticando a arte marcial. “No começo eu resisti, porque eram muitas atividades para a idade dela. Mas a insistência foi tanta que eu cedi e pedi que ela abrisse mão de um dos outros esportes”, diz Aline à Eufêmea.
Desde então, Clarice se mostrou comprometida com os treinos, mantendo a frequência e a disciplina. Essa dedicação, inclusive, se estende a todas as áreas de sua vida. Além da atuação nos tatames, ela também joga vôlei, é medalhista em olimpíadas de matemática e recebeu o certificado de aluna destaque em sua escola. Clarice ainda é fluente em inglês e espanhol.
Tanto comprometimento com os estudos revela um objetivo maior. “O sonho dela é ser médica e continuar conquistando títulos no jiu-jitsu, conseguir conciliar as duas coisas”, afirma a mãe.
Inspiração para outros atletas
Determinada, Clarice embarca para disputar o Pan Kids IBJJF, na Flórida. Será o primeiro campeonato NO-GI, modalidade em que os atletas competem sem o kimono, organizado pela Federação Internacional de Jiu-Jitsu Brasileiro.
As participações em competições como essa motivam outras pessoas a persistirem em seus objetivos. “Ela recebe muitas mensagens dizendo que é uma inspiração, um exemplo, e isso a motiva a continuar e buscar a evolução”, destaca Aline.
Apesar do destaque da filha, Aline reforça que a principal prioridade de Clarice são os estudos. Assim, ela consegue se dedicar à carreira de atleta sem prejudicar o desempenho escolar. “Os estudos são prioridade”, afirma.
Falta de financiamento ainda é uma barreira
Mesmo com todo o talento e representatividade do estado — em 2024, Alagoas ocupou o lugar mais alto do pódio em sua história no campeonato europeu após a vitória de Clarice —, a jovem ainda enfrenta uma dificuldade comum a muitos atletas brasileiros: a falta de patrocínio.
Em todos esses anos de competição, Clarice nunca recebeu apoio municipal ou estadual. Segundo Aline, a filha conta apenas com alguns patrocinadores privados, que ajudam em parte das despesas, mas ainda não o suficiente. “O resto a gente corre atrás. Fala com outras empresas, rifas, recursos próprios e assim tentamos viabilizar a ida dela”, conta.
Aline torce para que, com a visibilidade das disputas, Clarice consiga chamar a atenção de outras empresas ou até mesmo de iniciativas públicas que possam ajudá-la em competições futuras.