Foto: Arquivo pessoal
Para muitas pessoas, o local de origem representa uma sensação de identidade e pertencimento. Esse é o caso da jornalista batalhense Yasmin Evangelista que, com apenas 23 anos, lançou de forma independente um livro de crônicas que retrata o cotidiano da vida sertaneja. O livro “Eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar” é uma declaração a um povo que tem muito a contar.
A ideia surgiu em 2019, no primeiro semestre do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Ao chegar à capital alagoana, Yasmin notou que era a única estudante de sua turma vinda do sertão alagoano. Sem saber o que poderia enfrentar, resolveu procurar outros jornalistas de sua cidade com quem pudesse trocar experiências, mas percebeu que não havia nenhum.
“Nesse momento, senti uma solidão extrema, porque não havia nenhum jornalista ou profissional de comunicação de onde eu vinha”, relembra. Apesar da tristeza inicial, se deparar com essa realidade foi o combustível necessário para que ela mudasse a estatística.
A partir daí, começou a refletir sobre como poderia levar o sertão para dentro da universidade. Foi em uma aula sobre gêneros textuais que conheceu as crônicas jornalísticas, textos que retratam o cotidiano comum em uma escrita envolvente. Yasmin viu a oportunidade de unir sua vontade de representar seu lugar de origem com uma antiga paixão: a literatura.
“Comecei a matutar o projeto inicial do livro. Queria transformá-lo no meu TCC, o projeto mais importante da graduação. E já pensava no pós-Ufal, em colocar esse livro no mundo”, diz.
Os semestres se passaram e ela colocou o projeto em prática. De volta à sua cidade para procurar inspirações, entrevistou mais de 50 pessoas para entender mais a fundo as nuances daquele povo e lugar que foi fundamental em sua formação, e assim produziu as crônicas.
Em 2025, apresentou o livro “Eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar” como trabalho final do curso e obteve o certificado de jornalista com a nota máxima. Ela foi a primeira de sua família a se graduar em uma universidade federal.
O sonho da publicação

Com o projeto aprovado, estava na hora de iniciar a segunda parte desse sonho: publicar o livro fora da universidade. Mas, para isso, iniciou-se uma verdadeira saga. Foram meses em busca de patrocínios e editais que poderiam financiar a publicação, mas as respostas eram sempre negativas.
“Eu pensei: ‘E agora, o que faço?’”. Não tinha como custear e não conseguia nenhum patrocínio. Resolvi ir atrás de iniciativas culturais, mas levei alguns nãos, com a justificativa de que não viam força no projeto.”
Após as negativas, Yasmin pensou em deixar de lado a publicação. Porém, suas esperanças foram renovadas quando, em uma conversa com a família, eles disseram que poderiam ajudá-la a custear a impressão de alguns exemplares.
Ela cita os pais e a madrinha como peças fundamentais para realizar esse sonho. Foram meses juntando salários e utilizando o cartão de crédito para arrecadar o valor necessário para as primeiras publicações.
“Mesmo com poucas unidades, me senti realizada. Porque, apesar dos vários nãos, os sims que recebi me ajudaram a tirar o projeto do papel”, afirma.
A literatura como ferramenta de pertencimento
A família de Yasmin foi fundamental para a realização desse sonho, mas o apoio sempre esteve presente. Desde que foi alfabetizada, ela demonstra interesse pela literatura, interesse esse que foi incentivado pelo pai, também um leitor fervoroso.
“Quando peguei o ritmo da leitura, eu lia os livros junto com ele. Quando terminava a primeira página primeiro, ele sempre esperava eu finalizar para passar para a próxima”, relembra.
O incentivo escolar também foi um braço importante para que ela desenvolvesse seu interesse pela literatura. No ensino médio, precisava ler dois livros a cada bimestre. Foi assim que conheceu três grandes clássicos da literatura brasileira: “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa; “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos; e “Os Sertões”, de Euclides da Cunha. Obras que a inspiraram a também retratar o sertão em sua escrita.
“Lembro que estava lendo um desses livros e encontrei a frase ‘O sertanejo é, antes de tudo, um forte’, e isso me marcou profundamente”, conta. Esse contato com a literatura nacional sertaneja foi responsável por criar um senso de orgulho em pertencer àquele lugar.
A educação como caminho
É esse sentimento de orgulho que ela deseja inspirar em quem lê o seu livro. Yasmin ressalta que, enquanto escrevia, idealizava que seu trabalho se tornasse um “objeto de inspiração para outras meninas”. Ela deseja mostrar que a educação age como um agente transformador na vida das pessoas mais humildes, possibilitando a realização de sonhos.
“Queria que elas soubessem que é possível sonhar e realizar, que é possível chegar muito longe por meio dos estudos. E eu sei que é só o começo de uma grande jornada”, diz.
Ainda segundo a autora, o livro é também resultado de uma família que sempre a apoiou, demonstrando o orgulho que tem da sua origem e de seu povo, sentimento que ela deseja ampliar: “Se uma pessoa do sertão ler esse livro e sentir orgulho e pertencimento, eu já estarei realizada”, afirma.