“Chorar é coisa de gente grande.” A frase que dá nome ao novo livro da escritora, poeta e advogada alagoana Giovanna Lunetta nasceu de um gesto simples e íntimo: o abraço da avó durante um jantar em família. O livro será lançado no dia 12 de outubro, em São Paulo.
À Eufêmea, Giovanna contou que é muito emotiva e chora com frequência, sem pudor. Disse ainda que a avó, Maria Salgueiro Toledo, foi a inspiração para escrever o novo livro, a partir de uma frase dita por ela.
“Meus pais sempre ficaram um pouco desconfortáveis com o meu choro, às vezes achando desnecessário. Naquele jantar de família, comecei a chorar bastante e minha avó me segurou, sorriu e disse algo que me marcou profundamente: quem chora sabe o que fazer com o que o coração sente, e que isso é muito bonito”, relembra Giovanna.

A escritora conta que herdou da avó a sensibilidade para transformar as lágrimas em linguagem. “Ela chora muito, seja dançando forró, cozinhando ou vivendo. O choro faz parte da vida dela, e me fez reafirmar que também faz parte da minha”, diz.
No livro, o ato de chorar assume múltiplos significados. Pode vir da alegria, do medo, da saudade ou da beleza. “É também uma brincadeira com a ideia de ‘chorar que nem criança’: não, é chorar que nem gente grande mesmo”, explica.
Para Giovanna, se permitir sentir e se derramar é parte do amadurecimento e é isso que ela quis explorar em cada poema e prosa.
Segundo livro da escritora
Premiado pela Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), em 2024, Chorar é coisa de gente grande é o segundo livro da autora, que já havia sido reconhecida com O sol vem depois. A nova obra, segundo ela, é uma reafirmação de sonho e pertencimento. “Sonhar e realizar é mesmo para mim, para o meu tamanho, para o meu desejo”, reflete.
A coletânea é atravessada por ternura, vulnerabilidade e amor. Mistura poemas e prosas poéticas que entrelaçam ficção e vivência, abordando temas como afeto, raça, sexualidade, família e amadurecimento emocional. “É um livro honesto. Eu não tento parecer forte o tempo todo. Me permito sentir, desmontar e reconstruir”, conta.
Giovanna define a obra como um convite ao sentimento coletivo. Para ela, chorar é um gesto de coragem, e partilhar o choro é uma forma de comunhão. “É leve em alguns momentos, denso em outros, mas sempre verdadeiro”, resume.
Lançamento é uma travessia

O lançamento em São Paulo, segundo a autora, simboliza uma travessia. De Maceió para uma das principais livrarias do país, ela leva consigo o sotaque, as referências e a ancestralidade nordestina.
“É ocupar um espaço que historicamente nem sempre foi aberto para nós. Tudo o que escrevo nasce do Nordeste, mas pode alcançar qualquer lugar do mundo”, diz.
Há também um aspecto íntimo nessa conquista: pela primeira vez, sua família materna, que vive em São Paulo, poderá acompanhá-la de perto. “Eles nunca estiveram em um lançamento meu antes. Dessa vez, poderão estar. Isso importa demais”, diz emocionada.
A alagoana reforça que chega com as malas “cheias da sua terra” e abre espaço para que o que é nosso seja visto, lido e celebrado. “É dividir esse sonho com pessoas que amo e com autores e autoras que me inspiram. É o sonho que segue crescendo.”
Quem é Giovanna?

Giovanna Lunetta é escritora, poeta, advogada e criadora de conteúdo alagoana, autora do livro premiado O sol vem depois. Filha adotiva, traz para sua escrita temas como adoção, relações afetivas, memória, raça e vulnerabilidade, que atravessam sua trajetória pessoal e literária. Começou a escrever aos 13 anos e encontrou na poesia uma forma de interpretar o mundo e a si mesma.
Mulher negra, nordestina e LGBTQIAPN+, leva essas vivências para tudo o que produz seja na literatura, nas redes sociais ou em projetos de narração e texto para marcas e instituições. Acredita no poder do afeto como linguagem e no choro como um gesto de coragem e honestidade.