Dia 30 de setembro foi um dos piores dias da minha vida. Eu me vi com a cabeça atrapalhada, em meio ao caos da minha rotina e à sensação que eu não podia parar para ficar em posição fetal porque não tive sequer esse direito. Eu tinha imposto, salário para pagar, minhas contas pessoais, e meu celular não parava de chegar mensagens: pautas, pedidos para matérias, contadora falando sobre as finanças, pessoas pedindo ajuda… Tudo isso acontecendo ao mesmo tempo.
Em meio ao meu desespero, fui conversar com duas empresárias aqui de Maceió, e a sensação foi de desespero mútuo. No dia seguinte, conversei com outro empresário, que me trouxe, em meio às lágrimas, o quanto estava difícil manter o negócio funcionando. “Calma, é só uma fase que vai passar,” eu disse para eles e, na verdade, tentava desesperadamente me dizer também.
A exaustão que eles descreveram era física e mental. Falavam sobre noites sem dormir pensando nas contas atrasadas, na incapacidade de se desligar do trabalho porque precisam fazer dinheiro, nas estratégias para trazer mais clientes, no medo de não ter como pagar a escola dos filhos, de colocar a comida em casa. Traziam a vontade clara de largar os negócios e voltar a ser CLT. Cheguei a ouvir de uma dessas pessoas que, de tão desesperada e sobrecarregada, já havia pensado em “fazer alguma besteira” naquela semana.
Essas conversas me acenderam um alerta: como podemos falar sobre saúde mental se estamos desgastando a nossa saúde tentando salvar os nossos negócios? A verdade é que essa fase é a realidade. Não é um período isolado de dificuldade; é a estrutura do empreendedorismo no Brasil que exige o máximo de nós. É o peso constante da deslealdade do mercado, da falta de apoio e da cultura que nos impede de parar.
Mas há um ponto que precisa ser dito: para as mulheres, esse peso é ainda maior. Empreender no Brasil já é um ato de resistência, mas quando você é mulher e nordestina, ele se torna também um exercício diário de sobrevivência. A gente precisa provar o tempo inteiro que é capaz, enquanto lida com jornadas duplas, triplas, e com o olhar desconfiado de quem ainda acredita que o nosso negócio é “um hobby” ou “algo pequeno”.
Acredito que eu e essas empreendedoras vencemos mais uma semana, o famoso “leão” do dia. Nada mudou até agora, mas é a esperança de que vai mudar que ainda nos faz levantar da cama, abrir as portas do negócio e responder mais uma mensagem no WhatsApp como se estivesse tudo bem.
Espero que sigamos nos apoiando, respirando fundo e colocando nosso barco pra navegar, mesmo quando o mar parece revolto. Nem sempre teremos vento a favor, mas ainda assim seguimos, remando uma ao lado da outra, tentando não afundar sob o peso das cobranças, das contas e das expectativas.
Mas não dá mais para fingir que a força individual basta. A maré que enfrentamos é estrutural e só vai mudar quando existirem políticas públicas que cuidem da mulher empreendedora: acesso real a crédito, saúde mental como pauta econômica, redes de apoio e formação continuada.
Eu torço, verdadeiramente, por todas as empreendedoras para que possamos continuar, mas continuar de um jeito mais leve, mais justo e mais humano. Porque isso, mais do que qualquer meta, é o verdadeiro cuidado com a saúde mental.