Foto: Ascom Uncisal
Natural de Maceió, a bióloga Pollyanna Almeida, de 41 anos, tem quebrado paradigmas dentro da educação pública em Alagoas. Eleita reitora da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), ela é a pessoa mais jovem e a primeira não médica a ocupar um cargo que, historicamente, sempre foi destinado a profissionais da medicina.
“Ser a mais jovem e a única não médica me faz ter ainda mais compromisso em representar a mudança que queremos ver”, afirma à Eufêmea.
Polly ingressou na Uncisal em 2016, após ser aprovada em concurso público para ministrar aulas de genética. Poucos meses depois, foi convidada a assumir a coordenação de professores e, desde então, passou a atuar na gestão do Centro de Ciências da Saúde (CCS). Em junho de 2024, foi convidada a se candidatar ao cargo de reitora, função que exercerá até 2029.
Uma reitoria com olhar humano
Formada em Biologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Polly acredita que trazer uma perspectiva de outra área amplia as possibilidades da universidade. Em 60 anos de história, o cargo da reitoria foi ocupado exclusivamente por médicos.
“É importante entender que a universidade vai além da formação em saúde. Ela é feita de gente, de sonhos e de trajetórias diferentes”, diz. Para ela, a eleição de uma docente não médica representa um avanço institucional. “A partir de agora, todos podem se sentir capazes de se candidatarem a uma reitoria.”
Segundo Polly, ter uma gestora de fora da medicina permite que a administração seja voltada para as pessoas e suas particularidades. “Cada curso tem uma identidade e uma necessidade. É preciso olhar para essas individualidades e não apenas para as estruturas”, explica.
Diálogo como ferramenta de transformação

Para a nova reitora, uma palavra resume o que deseja para a sua gestão: diálogo. Ela defende que o sucesso da instituição depende do engajamento e da valorização das pessoas que a constroem.
“Trabalhar a valorização do ser dentro da universidade, seja colaborador, servidor ou aluno, é fundamental para que todos se sintam parte de uma grande família”, resume.
Enfrentando resistências com preparo e sensibilidade
A diferença de idade entre Polly e os reitores anteriores também representa uma ruptura. Ser a mais jovem a ocupar o cargo trouxe, inicialmente, momentos de resistência.
“A comunidade associa juventude com falta de experiência. Eu trabalho com gestão desde 2014, além dos estudos em inteligência emocional e gerenciamento de conflitos”, afirma, mostrando-se pronta para o desafio.
Para ela, a liderança não deve ser medida pelo tempo de carreira, mas pela capacidade de inspirar e conduzir mudanças. “Não é preciso estar perto da aposentadoria para ser reitor. As novas gerações estão cada vez mais preparadas para ocupar espaços de decisão.”
Mulher negra e inspiração para outras trajetórias
Além de representar juventude e competência, Polly também se tornou símbolo de representatividade. Mulher negra, ela sabe o impacto de ocupar um espaço de liderança em uma instituição historicamente branca.
“Já ouvi frases como ‘você nem é tão preta’ ou ‘não te vejo como negra’. Isso descredibiliza a minha história e apaga o que vivi como mulher negra”, relata.
Apesar dos episódios de racismo que já passou, ela destaca que o reconhecimento tem falado mais alto. “Desde que assumi, tenho recebido muito carinho e orgulho de pessoas negras que entendem a importância de ver alguém como elas nesse lugar.”
O desafio de representar a mudança
Ao romper paradigmas e propor um novo olhar para a gestão universitária, Polly aposta que seu maior legado será humano.
“Se eu conseguir fazer com que as pessoas se sintam valorizadas, ouvidas e parte da Uncisal, já terei cumprido a minha missão”, afirma.