Nos últimos anos, a cena feminina do rap ganhou destaque nacional com nomes como Duquesa, Tasha e Tracie e Ajuliacosta. Em Alagoas, esse lugar é muito bem representado por Huná, artista nascida e criada no Vergel do Lago, em Maceió, que vem conquistando cada vez mais espaço. Com apenas 24 anos, ela se destaca por composições que refletem o cotidiano da mulher negra, além de performances marcantes e prêmios pela sua atuação.
O primeiro contato com a música

Huná mescla rap e pop em suas canções, que apresentam letras empoderadas e abordam temas como liberdade sexual feminina. Os videoclipes, disponíveis no YouTube, utilizam as periferias de Maceió como cenário. O clipe da música “Batida Perfeita” acumula mais de 30 mil visualizações.
Apesar de os caminhos agora serem outros, a primeira influência musical de Alice Steffane Santos Barboza — nome de batismo da cantora — veio da igreja que frequentava com sua mãe. “A música me encontrou na igreja. Minha mãe cantava nos corais, e, desde muito nova, eu já fui inserida nesse ambiente”, relembra.
Até os 13 anos, Huná fez parte da banda da igreja. Mas foi em 2020, durante a pandemia, que ela lançou seu primeiro EP, dividido em duas partes. O trabalho levou seu nome artístico, que tem origem havaiana e significa “sabedoria oculta”.
Quando o cotidiano vira verso
Durante o processo criativo das composições, o cotidiano e as experiências do dia a dia se tornam sua principal fonte de inspiração. Assim, ela transforma situações que a atravessam em arte.
“As composições surgem de acontecimentos ou simplesmente vêm à minha mente. O cotidiano ajuda muito a ver a rua, as pessoas, meus envolvimentos”, diz. Segundo ela, cada letra nasce a partir de uma situação ou inspirada em alguém que marcou sua vida.
Entre essas vivências, falar sobre a saúde mental, emocional e afetiva de mulheres negras é um de seus focos. Além disso, Huná também ressalta o papel da ancestralidade em sua trajetória, como no verso “Não ando sozinha, nem nunca vou andar / Minha ancestralidade sempre vai me elevar”, destaque na música “Remexo”.
A experiência da mulher negra e nordestina no rap
O mercado do rap nacional e internacional sempre foi dominado por homens, revelando um espaço machista e misógino para mulheres que atuam no gênero, muitas vezes descredibilizadas por seu trabalho.
Refletindo sobre as mudanças nesse cenário, Huná acredita que houve avanço na aceitação e no valor dado pelo público às músicas feitas por mulheres, especialmente dentro do rap. “Viramos uma chavinha, mas ainda é preciso muita luta para escancarar a porta de vez”, afirma.
Para ela, as dificuldades são ainda maiores para mulheres que produzem fora do eixo Rio-SP. Artistas de outras regiões ainda são enxergadas a partir de estereótipos, e, apesar de muitas mulheres pretas e nordestinas estarem furando essa bolha, é necessário que oportunidades sejam criadas em todos os lugares.
“Minhas músicas alcançam outros estados e até outros países, mas estar fora de onde as coisas acontecem com mais frequência dificulta alguns acessos”, diz.
Reconhecimento em outras áreas
Mesmo diante dos desafios, Huná segue como um dos principais nomes do rap feminino no Nordeste e acumula feitos dentro e fora da música. Em 2022, ela fez participação especial no show da cantora baiana Margareth Menezes, no festival Carambola.
Além da música, explora outras linguagens artísticas, estudando teatro e cinema. Em 2024, participou do curta “Samuel Foi Trabalhar”, de Janderson e Lucas Litrento, pelo qual ganhou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cinema Curta Caicó.
Mais do que conquistas profissionais, ela afirma que a arte lhe trouxe vínculos para a vida. “A música me fez criar coligações que viraram amizades. A DJ KG, de Olinda, é uma delas, juntas, gravamos ‘Vrum Vrum’, levando o nome de Alagoas para fora do estado”, conta.
Sobre o futuro, Huná é objetiva: quer rodar o país com seu trabalho. Entre os sonhos que ainda deseja realizar, ela cita a vontade de fazer uma parceria com a rapper paulista Ajuliacosta.