Para o texto de hoje, convidei a psicóloga Huíla Cardoso (CRP 15/5673) para trazer uma reflexão necessária: hobbies como algo primordial para a saúde mental. O lazer, para a Terapia do Esquema, abordagem que norteia meus atendimentos clínicos, é entendido como uma necessidade emocional universal que precisa ser nutrida para a manutenção da nossa saúde mental.
Ele está ligado ao prazer, às brincadeiras, à criatividade, nos proporciona leveza e contribui para uma vida mais satisfatória e feliz. Quando não atendido, pode tornar nossa vida pesada, chata, perpetuando padrões rígidos, exigentes e críticos.
Essa “nutrição” emocional, que não vemos, mas sentimos, é tão importante quanto o cuidado que devemos ter com a nossa alimentação, por exemplo.
A infância é muito marcada pelo brincar, e pode parecer inadequado ou imaturo crescer em idade e ainda assim precisar se envolver em brincadeiras, no sentido mais literal da palavra (segundo o dicionário Oxford: jogo, divertimento, passatempo). Tais necessidades emocionais precisam ser nutridas por toda a nossa vida, não somente em uma fase específica.
A infância fica para trás, a vida adulta chega com todas as suas responsabilidades e, talvez, com um discurso de que não é coisa de mulher adulta, agora mãe, jogar um esporte, jogar um jogo, descansar, por exemplo. Viajar com as amigas? Nem pensar! Será? Espero, com a minha escrita, provocar algumas reflexões se você ainda é do time que negligencia o seu lazer.
A culpa de fazer algo somente para si, a sobrecarga feminina e a falta de repertório (pois muitas não foram instruídas desde a infância a terem um lazer como o descrito aqui) podem dificultar o desenvolvimento de um hobby como algo importante.
Infelizmente, ainda vivemos uma realidade em que os hobbies masculinos são normalizados, aceitos, enquanto os femininos podem vir carregados de julgamento e culpa.
Descansar, passar tempo consigo mesma, não é luxo, futilidade ou coisa de fraca. É necessidade. Mulher, se permita! Se permita descobrir quais são os seus prazeres e interesses, para além das suas outras facetas materna, profissional, romântica. Existe aí um EU. Do que ela gosta? Qual hobby ela deseja iniciar ou retomar?
E, para finalizar: ter um hobby não é egoísmo. É também autocuidado e garante a manutenção da tua saúde mental. Deixo aqui meu incentivo ao lazer feminino sem culpa.