Colabore com o Eufemea
Advertisement

Você ainda consegue ler até o fim de um texto ou uma matéria? A maioria já não consegue

Tempo de leitura, métricas caindo e a sensação incômoda de que você está digitando no vazio. Se você é jornalista, sabe bem do que estou falando. Vivemos o luto do leitor (a). A pergunta que não quer calar: a forma de consumo mudou ou será que estamos mais preguiçosos? Se você chegar até o fim desse texto, parabéns! Você faz parte de uma minoria…

No final de semana, fiquei na casa da minha avó. Resolvi tirar o sábado para maratonar séries e dar continuidade à leitura do meu livro (que tem cerca de 800 páginas). No domingo, passei o dia lendo. Não liguei a TV, mal entrei nas redes sociais e, quando me dei conta, havia lido 500 páginas. UAU! Nunca mais eu tinha lido tão rápido assim!

Foi aí que me dei conta: quem está lendo hoje em dia? Não é um defeito de caráter; é um sintoma da nossa nova dieta midiática. As telas nos viciaram na recompensa imediata: a dopamina rápida. O texto, coitado, é a forma de comunicação mais lenta que resta, exigindo a tal da atenção plena.

Aqui na Eufêmea, nós vivenciamos isso na prática. Nossas matérias ‘bombam’ nas redes sociais, mas quando checamos os acessos ao site… eles são, ironicamente, baixíssimos! Cada dia que passa vemos que eles estão mais baixos.

Vamos para alguns dados?

Em uma pesquisa recente do Instituto Pró-Livro, mais da metade dos brasileiros (53%) já não lê sequer parte de um livro. Se a leitura por prazer está em crise, a leitura por dever (como a de notícias complexas) não tem a menor chance.

O advento da Inteligência Artificial consolidou a “Era do Clique Zero”. A IA te dá o resumo da notícia no Google, o que significa que o leitor obtém a informação e pensa: “Missão cumprida.” Essa conveniência custou caro: veículos de notícias viram seu tráfego cair até 17% em 2025, pois o jornalismo virou a fonte de energia da máquina, mas não recebe o clique.

O que mais me inquieta não é a queda das métricas. É o que elas revelam: as pessoas não estão apenas lendo menos. Quando foi a última vez que alguém te contou animado sobre um livro que terminou? Quando foi a última vez que você leu um texto sem rolar para ver o tamanho antes? Quanto tempo faz que você acessou DE VERDADE um site de notícias e leu a matéria completa?

A gente romantiza a leitura, mas, na prática, ela virou um esforço que quase ninguém quer fazer. E não é porque as pessoas são menos inteligentes, menos sensíveis ou menos interessadas. É porque fomos treinadas, pela tecnologia, a só tolerar o que é imediato, curto e recompensador. A leitura pede o oposto: tempo, silêncio, pausa, concentração… exatamente tudo aquilo que o mundo atual nos ensinou a evitar.

A pergunta não é só “por que as pessoas não leem?”. É: o que estamos perdendo por não ler?

Foto de Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.
plugins premium WordPress