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“O normal é a mulher negra não ser a primeira da fila”, diz professora após vacinação contra a covid

Desde que a vacinação contra a covid-19 começou no país e mulheres negras foram escolhidas – em alguns estados – para serem as primeiras vacinadas, um ponto chamou atenção dos leitores que questionaram por qual motivo os sites de notícias reforçaram o termo negra. Alguns internautas chegaram a dizer que isso era racismo por parte dos jornalistas e que “todos somos iguais”.

Sobre o assunto, o Eufemea conversou com a professora e estudiosa do antirracismo, Taynara Silva que explicou que é importante enfatizar que aquela pessoa é negra, já que normalmente aquela pessoa não estaria naquele local.

“O normal é ela não ser a primeira da fila. Afinal, foi normalizado e naturalizado isso. Então é importante que se reforce que é uma mulher negra, ou que é uma mulher trans, por exemplo”, explicou.

Segundo a professora, por muitos anos, a pessoa preta não foi prioridade e nem foi vista como pessoa. “E sim como escravizado ou produto”, disse.

Por isso que a professora disse que quando se vê um preto tomando vacina prioritariamente no meio de uma pandemia é preciso que seja enfatizado que ela é uma mulher negra. “Em virtude do não lugar”.

Até que ponto é representatividade?

Entretanto, Taynara também falou sobre o termo Tokenismo que foi usado Martin Luther King e que fala sobre a questão do oportunismo.

“Alguns governantes, que não debatem e/ou se preocupam com a minoria, colocam pessoas pretas para serem as primeiras da fila. Isso parece ótimo, se não fosse pelo interesse de preencher o espaço superficial, ou seja, não há uma preocupação real, mas um plano que é bem articulado e que funciona. Para ser representativo, é necessário muito mais que isso”, destacou.

Taynara disse que os outros estados passam a repetir a ação de São Paulo por também perceber que é um plano que funciona.

“Mas a gente precisa cobrar que mais de uma mulher preta seja vacinada. Ninguém vai na favela vacinar as pessoas e ninguém está pensando na tia do sinal que é mais vulnerável. Não chega a ser representatividade e nem preocupação com a pessoa negra”.

Por outro lado, Taynara disse que é preciso que se debata esse assunto para entender o que é de fato o lugar daquela pessoa ou o ‘falso lugar’. “Ou seja, a falsa ideia de represenatividade”.

Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.