Esses últimos dias tenho ficado atenta às questões de gordofobia associadas à nova era do bem-estar. Eu não estou no meu lugar de fala, que fique claro. Nunca passei dos 75 kg. Mas trabalho com moda e tenho mais de mil clientes, que tive e tenho a oportunidade de conhecer, conversar, conviver, e por isso esses assuntos chegam até mim.
Historicamente, a moda nunca existiu para ser inclusiva (pelo contrário). Comercialmente, tudo fica mais encantado quando exclui, segrega. É assim que o mercado de luxo funciona, por exemplo. É assim que as marcas mais desejadas do mundo conseguem uma legião de fãs. Hoje, quero mostrar para vocês três lados dessa história: o das marcas pequenas, das marcas grandes e de quem precisa usar roupas fora do padrão.
Tenho uma marca pequena, e nunca vou conseguir atender vários públicos, já que produzo em pequena escala (e olha que tento produzir sob demanda e atender muitos corpos). Já me pediram para produzir masculino, infantil combinando com as mães, e muitas vezes me senti frustrada por não conseguir atender esses pedidos. Mas, se eu não afunilar meu público, minha empresa se torna insustentável. Não estaria há mais de 10 anos no mercado, pois não tenho capacidade produtiva para atender tanta gente diferente no Brasil: homens, mulheres, corpos tão diversos.
Já olhando para as grandes redes, na minha humilde opinião, é um absurdo marcas tão ricas não conseguirem criar células de produção suficientes para atender às diferenças de corpos. Acho uma loucura ver clientes magrinhas passeando na seção infantil de grandes magazines porque não encontram roupas tamanho 32/34. Com os tamanhos maiores, a chance de conseguir roupas legais é quase zero em espaços como esse.
Eu sei que o maior desejo de quem veste fora do padrão é encontrar roupas do seu tamanho em marcas das quais são fãs. E, depois de tantos anos, com tanta gente levantando essa bandeira, a gente já encontra marcas especializadas nisso. E é esse o grande ponto que quero abordar. É uma superoportunidade de novos mercados crescerem, surgirem novos empreendimentos especializados, o que significa dizer que teremos mais roupas bem-feitas, com qualidade, com tecnologias atuais, com afeto e propósito.
Penso que devemos parar de querer usar produtos de marcas que não possuem capacidade ou não querem nos atender. Não devemos mais sofrer com isso e passar a valorizar as que estão dispostas a fazer algo por nós. Hoje já existem marcas autorais e independentes que atendem praticamente todo tipo de público, que acolhem e estão doidinhas para ganhar nosso dinheirinho. Então, não dá mais para a gente ficar militando, tentando e insistindo em quem não tem interesse em atender nossas necessidades.
Se a marca não fala a sua língua, procure outra que traduza o mundo para você!
–