O lipedema é uma condição médica crônica que atinge cerca de 12,3% das mulheres no Brasil. Caracteriza-se pelo acúmulo anormal de gordura, especialmente nas pernas, coxas e quadris. Dor, sensibilidade e facilidade para formar hematomas estão entre os sintomas mais comuns. Esse acúmulo de gordura é resistente a dietas e exercícios físicos.
Segundo a endocrinologista Clélia Miranda, até 60% dos casos de lipedema têm relação com histórico familiar. Mudanças hormonais importantes, como a puberdade, a gravidez, a menopausa e o uso de anticoncepcionais, também podem ser gatilhos para o desenvolvimento da doença.
A obesidade não é a causa do lipedema, mas pode agravar seus sintomas. Mulheres com sobrepeso, alimentação desequilibrada e histórico familiar da doença estão mais propensas a desenvolver o quadro.
“Estilo de vida sedentário e o consumo de alimentos ultraprocessados, ricos em açúcares e gorduras, podem agravar os sintomas do lipedema, especialmente em pessoas já com predisposição”, afirma a endocrinologista em entrevista à Eufêmea.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico, de forma geral, é feito por meio da análise clínica, das queixas e do histórico familiar da paciente. Durante o processo, exames laboratoriais podem ser solicitados — como a ultrassonografia, que mede a espessura da pele, da gordura e avalia a composição corporal. Esses exames também auxiliam no acompanhamento da evolução do quadro.
A estigmatização da doença

Foi apenas em 2022 que o lipedema passou a ter uma Classificação Internacional de Doenças (CID). No entanto, a desinformação sobre o tema é antiga. Segundo a cirurgiã vascular Márcia Libardi, a condição foi identificada em 1940, mas, na época, a maioria dos médicos acreditava se tratar apenas de “gordura localizada”.
“A paciente era tida como gorda, com ‘gordurinha localizada’, ou associavam a um padrão de corpo hereditário. Essas mulheres foram estigmatizadas durante anos como obesas, preguiçosas, que não fazem dieta ou atividade física, mas, na verdade, estavam sendo negligenciadas”, afirma a médica.
Apesar dos avanços no debate por meio das redes sociais, ainda há muita desinformação sobre o lipedema. Entre os equívocos mais comuns está a associação direta com a obesidade. Márcia ressalta que as duas condições são distintas, embora possam coexistir. Por isso, o acompanhamento por uma equipe multidisciplinar é fundamental para um diagnóstico preciso.
“Sentia que minhas coxas não pertenciam ao meu corpo”

Por anos, a administradora Ana Paula Dantas, de 50 anos, conviveu com dores nas pernas, manchas roxas sem explicação e um volume desproporcional em relação ao restante do corpo. Apaixonada por praia, ela adorava usar biquíni para se bronzear, mas passou a evitar a atividade com o avanço das mudanças corporais.
“Eu sentia que minhas coxas não pertenciam ao resto do meu corpo. Tinha dores intensas, nódulos e celulite nas panturrilhas”, conta.
Ana lembra que a sensação era de carregar quilos extras nas pernas — o desconforto era tanto que mal conseguia tocá-las.
Diagnosticada também com fibromialgia, acreditava que essa era a origem dos sintomas. Para aliviar o incômodo, tentou caminhadas, drenagens e massagens, mas nada funcionava.
A importância da informação
Foi assistindo a uma entrevista da modelo e influenciadora Yasmin Brunet, que compartilhou sua experiência com o lipedema durante o Big Brother Brasil 2024, que Ana se reconheceu nos relatos.
A partir daí, buscou informações nas redes sociais e passou a seguir especialistas sobre o tema. Percebeu que o que sentia ia além da fibromialgia e decidiu procurar um fisioterapeuta e um nutricionista.
Com o diagnóstico confirmado, iniciou uma nova dieta e conseguiu reduzir a gordura visceral, associada às dores. Aliado às sessões de liberação miofascial e fisioterapia, o tratamento trouxe resultados positivos. Um ano depois, Ana celebra: sua qualidade de vida melhorou de forma significativa.
Possibilidades de tratamento
A endocrinologista Clélia Miranda explica que o tratamento do lipedema envolve uma combinação de abordagens clínicas, definidas de acordo com o grau de cada caso. Nos estágios iniciais, as principais estratégias incluem drenagem linfática manual, terapia descongestiva, uso de meias de compressão, reeducação alimentar e prática de atividade física adaptada.
Em alguns casos, podem ser indicados medicamentos como flebotônicos, diuréticos naturais ou anti-inflamatórios, sempre com supervisão médica. Embora não haja cura, o objetivo do tratamento é melhorar a qualidade de vida da paciente, reduzindo os sintomas e evitando a progressão da doença.
O tratamento cirúrgico é reservado para casos mais avançados, como os graus 3 e 4. Também pode ser uma opção quando a paciente não apresenta melhora após pelo menos um ano de tratamento clínico.