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Pela primeira vez, uma mulher pode comandar o PT em Alagoas: “Momento de reconstrução”, diz Dafne Orion

Psicóloga social, militante de base e dirigente sindical, Dafne Orion pode marcar um novo capítulo na história do PT em Alagoas. Candidata pela chapa Coração Petista, ela é a segunda mulher a disputar a presidência estadual do partido e, se eleita, será a primeira a ocupar o cargo. Com uma proposta centrada no fortalecimento das bases, no diálogo entre gerações e na ampliação da presença de mulheres, juventude, movimentos sociais e territórios populares, Dafne quer reoxigenar o partido e aproximá-lo ainda mais das lutas que o fundaram. 

Em entrevista à Eufêmea, Dafne fala sobre o desafio de disputar espaços de poder sendo mulher, os compromissos que assume com a base partidária e os rumos estratégicos que projeta para o PT em Alagoas. “O PT já foi responsável por romper muitos paradigmas, como ao eleger a primeira mulher à presidência da República. A minha candidatura reafirma esse compromisso com a construção de uma política mais inclusiva”, afirma. 

Ela reconhece que disputar a direção de um partido majoritariamente comandado por homens não é simples e que, por isso mesmo, aceitou o desafio. “Tenho consciência de que meu papel é seguir mostrando, principalmente para outras mulheres, a importância de nos unirmos contra a violência de gênero e pela construção de um ambiente mais representativo dentro do partido”, completa. 

Presença feminina e enfrentamento à deslegitimação

Dafne Orion/ Foto: Arquivo Pessoal

 Dafne Orion sabe o peso de ser mulher na política. E mais do que isso: conhece de perto as estratégias usadas para tentar deslegitimar sua presença nos espaços de poder. “Já escutei que eu não decido nada, que estou sendo usada ou que serei facilmente dominada”, relembra. “É a tentativa de colocar a mulher como incapaz de exercer o poder. Esse discurso é antigo, enraizado e continua nos desafiando.” 

Para ela, enfrentar esse tipo de violência exige firmeza, coerência e permanência. “A superação vem quando a gente reafirma nossas escolhas e continua ocupando os espaços de decisão.” 

Com uma trajetória construída no diálogo e na escuta ativa, Dafne diz que aceitou disputar a presidência estadual do PT não apenas para representar as mulheres dentro do partido, mas também para ampliar a escuta a outros segmentos.

“Quero conversar com as mulheres petistas, mas também com quem está fora dos espaços formais de decisão. O diálogo precisa extrapolar os muros do partido.” 

Ao falar sobre a presença feminina na política alagoana, ela é direta e enfatiza que “ainda somos minoria”. “Não só em número, mas na defesa efetiva de pautas que impactam a vida das alagoanas.” 

Dafne acredita que um dos primeiros passos é ajudar outras mulheres a entenderem que sua própria existência política já é um ato de resistência. “Ocupar espaços legislativos e executivos também é coisa de mulher”, diz, ressaltando a urgência de incluir mulheres negras, periféricas, de povos tradicionais, do campo e das águas. 

Compromissos com o futuro 

Dafne Orion/ Foto: Arquivo Pessoal

A decisão de Dafne Orion de disputar a presidência estadual do PT em Alagoas nasceu de uma certeza: retrocessos em áreas como democracia, combate à fome e violência são inadmissíveis. “Essas são pautas inegociáveis”, afirma. “O PT é um organismo vivo, em constante transformação, e precisa estar conectado às necessidades reais do povo.” 

Ela acredita que esse é o momento de resgatar os princípios que deram origem ao partido e que nada mais potente do que uma mulher para conduzir esse reencontro com as bases. “Quem melhor do que nós para compreender pautas historicamente tratadas como menores, como cuidar das pessoas?”, questiona. 

Se eleita, Dafne pretende fortalecer os vínculos com os alicerces que sustentam a história do PT: sindicatos, movimentos sociais, universidades, igrejas populares e a cultura. A proposta é revigorar a atuação do partido a partir do chão da luta, com escuta ativa e construção coletiva. 

Entre os compromissos que assume, destaca a prioridade de ampliar a participação de mulheres e juventudes. “Esses dois grupos precisam ter força dentro do partido, com espaço real para debater novas formas de organização e atuação política.” 

Outro eixo central da sua proposta é modernizar os processos de comunicação interna e externa, aproximando os diretórios municipais e incentivando a interiorização do partido no estado. 

“Trago um coração petista comprometido e aberto à construção de unidade. Quero respeitar as divergências entre tendências, gerações, gêneros, raças e classes e garantir que todas as vozes se sintam parte do mesmo projeto”, afirma. 

Desafios estratégicos e a construção da unidade 

Dafne Orion/ Foto: Arquivo Pessoal

Dafne Orion sabe que, para fortalecer o PT em Alagoas, será preciso ir além das urnas. Entre os principais desafios, ela aponta a ampliação das bancadas legislativas estadual e federal e, principalmente, a revitalização da vida partidária entre os períodos eleitorais. 

“Nossa maior base de filiados está em Maceió, mas ainda não conseguimos transformar essa força em projetos políticos pensados a partir da escuta popular”, afirma. Para mudar esse cenário, Dafne aposta em uma dobradinha com Elida Miranda, militante histórica e sua companheira de chapa para a presidência municipal do partido na capital. 

O peso do diálogo e a defesa da autonomia 

Dafne Orion/ Foto: Arquivo Pessoal

Com uma trajetória marcada pela atuação sindical e formação em psicologia social, Dafne acredita que esses elementos são decisivos para a liderança que pretende construir: uma condução que saiba mediar conflitos, promover escuta ativa e garantir a autonomia política do partido. 

“Sou defensora da conciliação, mas não de submissões. As alianças que construirmos precisam respeitar a altivez do PT e sua história de enfrentamento”, reforça. 

“É tempo de reconstruir” 

Em sua mensagem à militância e à sociedade, Dafne é direta: o PT deve assumir seu papel como ferramenta de transformação, mas isso exige coragem para reverter os retrocessos recentes e barrar os que ainda estão em curso.

“Estamos em um momento de reconstrução. Nenhuma batalha está perdida enquanto houver luta. E é com essa disposição que sigo: ao lado das bases, das mulheres, da juventude, da classe trabalhadora. É hora de reconstruir, com coragem e diálogo.”

Foto de Rebecca Moura

Rebecca Moura

Jornalista formada pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.