Eu não quero dar conta de tudo. Não aceito mais que essa seja a minha sentença. Estou escrevendo este texto às 23h de uma quarta-feira porque me sinto muito descansada após ter me permitido uma folga e também ter dado uma folga à nossa equipe da Eufêmea desde a última sexta-feira. Hoje (dia 24 de junho), ouvi de uma mulher muito sensível, espiritualista, que eu precisava descansar. E não era apenas o meu corpo físico, mas também a minha mente. Mas vocês acham que descansar era uma opção para mim? Não.
Eu tenho hiperatividade mental, e viver dentro da minha cabeça é realmente como estar ligada nos 220 dia, noite, madrugada. Estou pensando o tempo todo e tentando, a todo custo, buscar formas de dar conta de tudo: trabalho, família, amigos, afilhados, vida pessoal, autocuidado… São tantas atribuições que sinto que estou sempre falhando com algo ou com alguém. E sim, eu vou sempre falhar.
Hoje, eu também ouvi dessa mesma mulher sábia que a minha armadura de soldada já não me servia mais. Eu precisei usá-la durante muito tempo para sobreviver, porque essa era a única opção que eu tinha: forjar uma mulher dura, guerreira, forte, incapaz de derramar uma lágrima nos enterros. Uma mulher que faz, dá conta e resolve tudo. Mas será mesmo que eu preciso sustentar essa mulher forte?
Eu não quero mais esse título para mim. Eu quero me permitir falhar e dizer para as pessoas que não dou conta, porque é impossível ser 100% em algo quando preciso colocar minha energia em tantos outros lugares. Eu não quero mais ser a mulher guerreira, forte, que resolve tudo. Eu também quero ser cuidada, amada, e ter alguém que resolva algumas coisas por mim.
Ser a pessoa que “dá conta de tudo” sempre beneficiou quem recebeu, mas sempre me prejudicou. Sempre me colocou num lugar de adoecimento. Eu quero fazer o que dá. O que eu consigo fazer naquele dia. E isso não me torna menos profissional, nem menos mulher. Em um mundo que nos cobra tanta produtividade e essa capacidade de fazer tudo ao mesmo tempo, eu quero retroceder. Quero chamar atenção para esse movimento adoecedor que nos impõem, sobretudo a nós, mulheres.
Será mesmo que precisamos fingir que damos conta de tudo? Porque não damos. E admitir isso talvez seja o primeiro passo para entendermos que somos humanas e que também precisamos descansar, viver com leveza e cuidar da gente.