Colabore com o Eufemea
Advertisement

Inovação não é neutra: por que a igualdade de gênero precisa estar no centro das startups

Foto: Meline Lopes

Falar de inovação sem falar de gênero é perpetuar um sistema desigual que exclui, silencia e adoece mulheres dentro dos ambientes mais celebrados da tecnologia e do empreendedorismo.

Existe uma ideia — ainda muito presente — de que a inovação é “neutra”. Que basta ter uma boa ideia e força de vontade para empreender e vencer. Mas essa narrativa não é apenas ingênua: ela é perigosa. Porque ignora que o mercado da inovação foi construído a partir de um modelo masculino, branco, cis, centrado em produtividade a qualquer custo e descolado da realidade de grande parte da população. Inclusive da maioria das mulheres.

Tecnologia, quando criada sem diversidade, não é solução — é reprodução de injustiça. E os exemplos estão por todos os lados:

Um dispenser automático de sabão que não reconhece mãos pretas.

Uma câmera digital que avisa que a pessoa está com os olhos fechados — quando, na verdade, ela é asiática e essa é uma de suas características físicas.

A recente campanha do Boticário, que insinua que uma mulher se insinua para um homem esperando que ele pague por suas compras.

Assistentes virtuais como “Siri” e “Alexa” que, quase sempre programadas com vozes femininas e postura subserviente, reforçam estereótipos de gênero há décadas.

E, como mostrou uma pesquisa recente da Unesco (reportada pelo Meio & Mensagem), os próprios modelos de inteligência artificial reforçam esse ciclo. A análise revelou que ferramentas como GPT-3.5, Llama 2 e outras reproduzem estereótipos de gênero, associando nomes femininos a termos como “lar”, “família” e “crianças”, enquanto nomes masculinos são ligados a “negócios”, “carreira” e “executivo”. Pior: em cerca de 20% dos testes, os modelos geraram conteúdo misógino explícito — como frases em que “a mulher era considerada propriedade de seu marido” ou vista como uma “máquina de fazer bebês”.

Precisamos romper com essa lógica excludente que diz que sucesso é sinônimo de 16 horas de trabalho, de corpo blindado à emoção, de metas desumanas, de ambientes que se acham modernos só porque têm puffs coloridos — mas que não têm uma política mínima contra o assédio.

Eu sou CEO da Sandora, uma startup que nasceu justamente para hackear esse sistema. Mas antes de empreender, fui funcionária. E como funcionária, vivi o que hoje entendo como assédio moral — e que na época eu nem sabia nomear. Em 2016, fui perseguida por uma gestora que me vigiava fora do expediente, gritava comigo e chegou a me mandar tomar no… em alto e bom som, diante de toda a equipe. O RH me tratou como o problema. Fui punida por ter sofrido violência.

Na minha trajetória como mãe, também enfrentei o apagamento. Já ouvi que era “menos comprometida” por priorizar o cuidado. Já precisei esconder o fato de que precisava buscar meu filho para não ser mal interpretada. Fui excluída de eventos de inovação por serem exclusivamente presenciais em horários impossíveis de se frequentar enquanto lactantes.

Quando digo que inovação não é neutra, estou dizendo que ela carrega intencionalidades. E se essas intenções não forem revistas, o que a gente vai continuar criando são ferramentas que servem a poucos e adoecem muitos.

A Sandora existe para tensionar esse lugar. Para colocar as normas de segurança emocional e igualdade de gênero no centro da conversa sobre cultura organizacional. Para ajudar empresas a se adequarem à NR-1, à NR-5 e à Lei 14.457. Mas, acima de tudo, para provar que inovação também pode ser afeto, cuidado, prevenção e respeito.

Inovação é criar soluções novas para problemas reais. E não há problema mais urgente do que o de manter mulheres vivas, saudáveis e seguras no trabalho — e na sociedade.

Se você acredita que inovação precisa ser feita com propósito — e com perspectiva de gênero —, vem comigo.
Conheça mais em: www.sandora.me

Te convido a hackear o sistema juntas.

Foto de Meline Lopes

Meline Lopes

Jornalista, advogada, especialista em comunicação e em marketing digital. Atuou como repórter de televisão durante 9 anos em diversas emissoras do Brasil. É repórter do Eufêmea.
plugins premium WordPress