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Como identificar um relacionamento abusivo? Sinais e motivos que mantêm mulheres presas

Eu poderia começar listando sinais clássicos de um relacionamento abusivo. Mas, a minha experiência trabalhando com mulheres me mostrou que, no fundo, a gente sempre sente quando algo está errado. Existe uma intuição que nos alerta, aquele desconforto que aparece quando ouvimos frases como: “Por que você vai sair vestida assim?”, “Eu só me preocupo com você”, ou “Você fica melhor quando não fala tanto”. Nós sabemos, lá no fundo, que não se trata de cuidado, principalmente quando essas falas se tornam repetitivas.

Mas mesmo sabendo, muitas vezes, nós ficamos. E isso acontece por inúmeros motivos, mas vou citar três aqui. Um deles é a ilusão de que podemos salvar alguém. Acreditamos que, com paciência, amor e esforço, vamos conseguir mudar aquela pessoa, curá-la de suas dores, transformá-la em alguém melhor. Mas a verdade é dura: a gente não tem esse superpoder. Ninguém muda quem não quer mudar.

Outro motivo, talvez ainda mais profundo, é que ficamos presas ao que o outro tem a nos oferecer e o que idealizamos de amor. Imagine comigo: eu cresci em uma casa onde meus pais viviam entre agressões e reconciliações. Separavam-se e depois voltavam. Havia momentos de caos e momentos de trégua, e ali, naquela oscilação, eu, criança, construí minha ideia de amor.

A minha eu, adulta, reconheceria algo diferente?

O terceiro motivo que eu cito aqui é: existe vida sem ele? Muitas mulheres entram em relacionamentos e, sem perceber, começam a viver a vida do outro. Seus sonhos, suas vontades, suas escolhas vão sendo colocadas em segundo plano. E, quando se dão conta, estão vivendo em função do parceiro. Então, vem a dúvida: “será que existe vida sem ele?”; “será que alguém vai me amar e ficar comigo?”

Sempre que acontece um caso de feminicídio, eu vejo comentários que, mesmo sem perceber, colocam a mulher como culpada. “Ela sabia e quis ficar.” “Ela escolheu isso.” Por isso, eu te proponho a analisar, de uma forma racional, que permanecer em uma relação abusiva não é uma decisão consciente. Existe um emaranhado de fatores emocionais, sociais e até históricos, que mantêm uma mulher presa a um agressor.

Cada história é individual. Não existe uma fórmula única, nem um caminho simples. Essa mulher precisa de apoio da família, das amigas, de uma rede multidisciplinar que inclua profissionais da saúde, do direito, da assistência social. Mas, acima de tudo, ela precisa de algo que só ela pode construir: o reconhecimento.

Reconhecer que está em um ciclo de violência é o primeiro passo. E esse é, muitas vezes, o mais difícil. Porque admitir isso significa encarar a própria história e, muitas vezes, desconstruir a ideia de amor que ela construiu a vida inteira.

Foto de Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.
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