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A morte da Preta Gil me fez chorar como se fosse uma amiga minha e talvez você sinta o mesmo

Quando li a notícia da morte da Preta Gil ontem, me vi chorando como se tivesse perdido uma grande amiga. Mas, ao mesmo tempo, senti um estranho conforto ao perceber que eu não era a única. Muita gente chorava junto comigo. Preta tinha esse poder de tocar as pessoas, mesmo aquelas que não eram necessariamente fãs.

Confesso que meu emocional anda um pouco abalado. Há pouco mais de um mês, perdi um conhecido para o câncer, um homem jovem, de apenas 38 anos. E, há menos de dez dias, perdi minha tia. Talvez isso também explique o choro descontrolado que tive ontem, ao ver qualquer post sobre a Preta. Só sabe quem que dor é essa quem já teve alguém com câncer por perto.

Mas, antes mesmo de alguém publicar que ela morreu justamente no Dia do Amigo e não poderia haver data mais simbólica para ela do que essa, eu já tinha pensado: “Ela morreu no Dia do Amigo, e ela representava exatamente essa amiga tão querida”. Dava para sentir que ela era verdadeiramente amiga.

Talvez eu tenha sentido tudo isso ao ver a morte dela porque, de alguma forma, eu me identificava com ela. Acho que é por isso que tanta gente sentiu tanto: existia uma identificação em algum lugar. Sempre valorizei muito meus amigos, sempre coloquei eles num lugar de cuidado, amor e zelo. Sempre enxerguei neles um apoio, uma salvação mesmo. Foram família quando eu me senti sozinha. E talvez a Preta representasse exatamente isso: essa amiga que acolhe, que está perto mesmo sem estar.

Do outro lado, tem a dor de ver uma doença tão cruel levar embora uma mulher que representou tanto. Uma mulher que quebrou barreiras, que defendeu outras mulheres, as pessoas LGBTs, que falou sem medo sobre corpos, prazer, sexualidade. Uma mulher que tinha sede de viver, que amava intensamente e que nunca teve vergonha de demonstrar esse amor.

Ontem, ao ver que a Preta se foi, algo despertou em mim. Me deu mais vontade de viver de verdade. De amar ainda mais meus amigos, de estar perto, de chorar em público sem medo, de largar certas vergonhas que ainda carrego só por medo do que os outros vão pensar. Me deu vontade de fazer bonito, como ela fez. De, no dia em que eu tiver que partir, deixar também um legado de amor, de amizade, de presença. Deixar marcas positivas na vida de quem cruzar meu caminho.

É pra isso que a gente vive: pra ter a chance de transformar o caos em algo bonito na vida de alguém. Pra lembrar que viver é uma dádiva e que, todos os dias, temos a oportunidade de evoluir, de ser um pouco melhores. Mas a verdade é que ainda perdemos muito tempo dando valor ao que nos esgota, presos em reclamações, sem perceber o que realmente importa. Deixamos de olhar para as pequenas coisas boas que acontecem todos os dias, simplesmente porque nos acostumamos com elas.

Obrigada, Preta, pelos 50 anos que você viveu aqui, nos ensinando tanto. Não tem como não sentir a sua partida, porque, de alguma forma, todos nós carregamos um pouco de você. Todos nós somos, em algum lugar dentro da gente, um pouco Preta.

Foto de Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.
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