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Uma adolescente de 14 anos foi vítima de racismo enquanto esperava o ônibus. Ao lado da mãe, Gil Oliveira, ela seguia para uma reunião na escola quando foi abordada por um homem que fez comentários ofensivos sobre o seu cabelo. O caso aconteceu no dia 11 de julho, no bairro do Clima Bom, em Maceió.
À Eufêmea, a mãe da adolescente contou que as duas estavam no ponto de ônibus quando perceberam, por meio de um aplicativo, que o transporte iria atrasar. Por segurança, atravessaram para o outro lado da rua. Lá, na sacada de uma lanchonete, um homem conhecido da vizinhança se aproximou e iniciou a abordagem.
“Ele começou a falar do cabelo dela. Apontou, balançou a cabeça negativamente e perguntou: ‘Para que você faz isso no cabelo? Para que usar o cabelo dessa forma? Olha ali o da sua mãe. Por que você não usa igual ao da sua mãe?’”, relatou Gil.
Naquele dia, a jovem usava o cabelo afro natural, solto e volumoso, como costuma usar diariamente. Gil, com o cabelo alisado e preso, acabou sendo usada pelo homem como referência “aceitável”. Sem compreender de imediato a violência da fala, a adolescente seguiu em direção à escola.
Gil relembra que reagiu no momento, tentando proteger a filha. “Falei pra ele: ‘Você tem noção do que está dizendo? Não faça isso. A gente tem o direito de ir e vir. A gente usa o cabelo como quiser’”, relatou.
Quando a dor chegou depois
Mesmo indo até a escola, ela sentiu o impacto do que tinha acontecido. Participou da reunião, mas logo pediu que a mãe fosse buscá-la. De volta para casa, as duas conversaram. Gil contou que sentiu um misto de impotência e culpa. “Me senti insuficiente para defender minha filha naquele momento”, desabafou.
Ela decidiu tornar o caso público. Primeiro, escreveu um texto nas redes sociais. Depois, falou sobre o episódio a uma emissora local. A repercussão foi grande: muitas pessoas começaram a compartilhar relatos semelhantes.
“Recebi várias mensagens de pessoas que vivem isso todos os dias e não têm coragem de denunciar”, disse Gil à reportagem. Apesar da mobilização nas redes e na imprensa, ela relata que não recebeu nenhum apoio concreto da comunidade ou de instituições públicas, além do registro do boletim de ocorrência.
Conversa em casa e consciência nas ruas
Ela conta que, dentro de casa, a identidade racial sempre foi tratada com naturalidade. “Ela sabe da cor dela, do cabelo dela. Esse não é um assunto delicado na nossa casa. Sempre foi muito bem resolvido.”
Ainda assim, o episódio revelou uma lacuna: Gil nunca havia preparado as filhas para se defenderem de ataques racistas. “Essa conversa a gente não tinha tido.”
Hoje, ela está mais atenta. Sabe que pode enfrentar situações semelhantes e entende que o racismo, embora persistente, precisa ser combatido. “Ela entende que o racismo não vai acabar, mas acredita, como eu, que a gente pode ajudar a diminuir isso”, resume a mãe.
Racismo é crime no Brasil
De acordo com a Lei 7.716/1989, o racismo é crime inafiançável e imprescritível, ou seja, pode ser denunciado a qualquer momento. Atitudes como ofensas, discriminação e constrangimentos motivados pela cor da pele, cabelo ou características físicas são formas de violência racial e devem ser combatidas.
Casos de racismo podem ser denunciados pelo Disque 100, diretamente nas delegacias ou pelo Ministério Público. O registro de boletim de ocorrência é um passo importante para garantir a investigação e responsabilização dos agressores.