Foto: Reprodução/Youtube
Por Adelayde França
Nos últimos dias, um novo fenômeno tomou conta das redes: o tal “morango do amor”. É uma releitura gourmet da maçã do amor.
“Quem não comeu, precisa comer”, dizem por aí. Mas o que acontece com quem não come? Está fora? Perdeu?
Uma amiga comentou no nosso grupo: “Acho que Ade e Rai precisam escrever sobre a viralização de algo nas redes e a necessidade de se sentir pertencente a alguma coisa. Todo mundo fazendo, também vou fazer.” E ela tem razão. A cada semana, uma nova febre nos convida, ou nos pressiona, a participar de algo: uma dancinha, uma sobremesa, uma estética. A sensação é que estar fora é não existir.
E aí eu penso: até o cuidado virou produção. A terapia entrou na agenda como ferramenta de performance emocional. O descanso virou combustível para produzir mais. A alimentação saudável virou estética. A academia, vitrine. O autocuidado, que antes poderia ser silêncio, pausa, solitude, agora exige exposição, constância, engajamento.
O que era afeto virou conteúdo. O que era desejo virou obrigação. O que era cuidado virou produtividade.
Não se trata de criticar quem gosta de dançar ou de comer morango caramelizado, mas de perceber como, cada vez mais, até os pequenos prazeres estão sendo colonizados por essa lógica de mostrar, registrar, pertencer. E quando tudo se torna mercadoria, até o amor vem caramelizado e com prazo de validade.
Talvez o que a gente esteja procurando com tanto entusiasmo, em morangos do amor e vídeos virais, seja exatamente o que perdemos: um pertencimento que não precise de plateia.