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Natasha Taques

Somos muito unidos: vínculo ou emaranhamento?

Na prática clínica e nos atendimentos psicológicos, é comum escutarmos relatos de relações “intensas”, “grudadas”, “inevitáveis” — muitas vezes descritas como vínculos profundos. No entanto, nem toda conexão emocional representa um vínculo saudável.

Algumas dessas relações são, na verdade, exemplos clássicos de emaranhamento relacional, um fenômeno que, embora pareça proximidade, gera confusão de identidade, perda de autonomia e sofrimento.

O emaranhamento, do ponto de vista da Terapia do Esquema, refere-se à ausência de limites claros entre o self e o outro. É quando há uma fusão emocional excessiva, muitas vezes pautada por falta de autonomia na infância, superproteção, ou intrusão, críticas que solapam a autoconfiança, o que pode gerar como “defesa” esquemas disfuncionais como subjugação, autossacrifício ou busca de aprovação.

Nesse tipo de relação, o sujeito pode sentir-se constantemente responsável pelas emoções do outro, desenvolver medo de desagradar, e passar a reprimir suas próprias necessidades para manter o “vínculo” o que, na verdade, é um enredamento. Para facilitar a compreensão vou trazer aqui alguns exemplos que ocorrem na clínica.

Exemplo clínico fictício: Marina, 32 anos, relata em sessão que “não consegue tomar decisões sem consultar a mãe”. Mesmo adulta e financeiramente independente, sente culpa intensa ao contrariá-la. Nesse caso, observamos não um vínculo saudável, mas um emaranhamento emocional, onde há invasão das fronteiras do self e perda de autonomia.

Por outro lado, o vínculo afetivo seguro, se estabelece a partir da confiança, da responsividade emocional e da segurança para ser quem se é.

Considerado a parte central da reestruturação dos modos desadaptativos, especialmente na ativação do modo adulto saudável. Relações baseadas em vínculos saudáveis sustentam a construção de uma identidade estável e permitem que o indivíduo se sinta livre para expressar sentimentos, discordar e, ainda assim, se sentir pertencente.

Exemplo clínico fictício: João, 40 anos, conta que em sua atual relação amorosa sente-se “livre para dizer não e ser respeitado”. Ele se reconhece como parte de um casal, mas sem perder sua individualidade. Aqui, o vínculo fortalece a identidade e permite crescimento mútuo.

A diferença essencial entre vínculo e emaranhamento está na autonomia e nos limites. Enquanto o vínculo respeita e reconhece os contornos do self, favorecendo o contato com as emoções autênticas, o emaranhamento obscurece esses contornos e gera confusão sobre quem se é, o que se quer e o que se sente. Relações emaranhadas se sustentam no medo de abandono ou na necessidade de controle; vínculos verdadeiros se sustentam na segurança e na liberdade de ser.

Essa diferenciação é crucial não apenas na vida pessoal, mas também na prática clínica. Como terapeutas, precisamos estar atentos às dinâmicas de emaranhamento nas relações familiares, conjugais ou mesmo na transferência terapêutica, para ajudar nossos pacientes a construírem vínculos que curem — e não relações que adoeçam.

Diferenciar o vínculo e o emaranhamento é, portanto, um passo essencial para promover saúde emocional, fortalecer o seu self e ampliar a capacidade de conexão segura com o outro.
 
Então se você não tem certeza ainda se sua relação é pautada no Vínculo ou no Emaranhamento a primeira pergunta é:
 
Você sabe quem realmente é ou está sempre se adaptando a identidade de quem você convive?
 
Com que frequência você já fez algumas dessas afirmações:

-“Somos tão conectados que pensamos igual”
-“Sou muito adaptável”
-“Gostamos de coisas muito parecidas”
-“Não consigo me afastar dos meus pais ou parceiro”
-“Não gosto de fazer nada sozinho”
-“Sinto insegurança para tomar decisões sozinha (o)”
-“Se guardo segredos me sinto traindo meus pais ou parceiro, tenho que contar tudo”
-“Sinto muita necessidade de agradar as pessoas e não sei dizer não”
 
Se essas afirmações são muito recorrentes em sua vida, busque ajuda, o emaranhamento impede você de conhecer a si mesma, reconhecer seus limites, gostos, valores, e ser livre!

Indivíduos assim também exigem o mesmo de seus parceiros e vivem uma vida de dependência e privações mútuas. Uma dica diferencial, o Vínculo nutre, o Emaranhamento sufoca.

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Natasha Taques

Psicóloga clínica (CRP-15/6536), formada em Terapia do Esquema pelo Instituto de Educação e Reabilitação Emocional (INSERE), Formação em Terapia do Esquema para casal pelo Instituto de Teoria e Pesquisa em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental (ITPC).
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