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Das fraldas às planilhas: o dia em que vi que já era CEO — mesmo com Tomás no colo

Às 13h30 eu viro CEO. É nessa hora, todos os dias, que deixo o Tomás na escola e assumo outra parte de mim: a empreendedora, a gestora, a mulher que lidera uma startup de tecnologia em meio a um mercado ainda tão masculino quanto o das fraldas na propaganda.

Mas a verdade é que eu nunca deixo de ser mãe — nem às 13h30, nem às 9h, nem numa reunião com cliente.

Aliás, já participei de diversas com o Tomás no colo. E não foram poucas. Ele já chorou no meio de uma call estratégica, já pediu para assistir desenho no meio de uma conversa sobre contrato, já precisou da minha atenção enquanto eu falava sobre adequação à NR-1.

E quer saber? Eu continuo sendo CEO mesmo assim.

Durante muito tempo, me ensinaram que liderança era sinônimo de “comprometimento” — e que comprometimento era, basicamente, esquecer tudo que não fosse trabalho. O modelo ideal era um homem disponível o tempo todo, sem interrupções, sem pausas, sem imprevistos — e, claro, sem filhos no colo durante reuniões.

Mas esse modelo me exclui. E exclui milhares de mulheres como eu.

Segundo a FGV, até 50% das mulheres são demitidas até dois anos após o nascimento de seus filhos. E um estudo do Instituto C&A revelou que 40% das mães empreendem por necessidade, não por vocação. O empreendedorismo materno é, muitas vezes, uma alternativa ao abandono do mercado formal, que pune mulheres por terem filhos e as vê como menos produtivas.

Mas quem já liderou uma casa com criança pequena sabe que planejamento, flexibilidade e inteligência emocional são habilidades que nenhuma escola de negócios ensina tão bem quanto a maternidade. A gente aprende a priorizar, a negociar, a escutar, a improvisar — tudo isso no intervalo de uma soneca.

Hoje, como CEO da Sandora, eu transformo essa vivência em estrutura. Criei uma startup que oferece soluções de tecnologia com lente de gênero, com foco em segurança emocional, combate ao assédio e promoção da igualdade. Lidero um time enxuto, multitarefa e conectado com propósito — e faço isso com Tomás crescendo ao meu lado.

Não romantizo. Conciliar maternidade e gestão é exaustivo, muitas vezes solitário. Mas é também revolucionário.

Porque cada vez que entro em uma reunião com ele no colo, sem esconder, sem pedir desculpas, estou abrindo espaço para outras mães que virão depois de mim.

Porque cada vez que digo que só posso falar depois das 13h30, eu reafirmo que o tempo de cuidar também é tempo produtivo — mesmo que o mercado ainda não reconheça.

E porque, ao fazer isso tudo, eu mostro que liderança não precisa se afastar do afeto. Ela pode, sim, ser construída com empatia, escuta e presença. E com a coragem de mostrar que é possível existir com mais de um papel ao mesmo tempo — mesmo que isso signifique calar um tablet enquanto apresento meu pitch.

Que a gente siga liderando do nosso jeito. E que os espaços aprendam a acompanhar o nosso ritmo — não o contrário.

Para conhecer uma tecnologia criada por uma mãe, para proteger outras mulheres, acesse:
www.sandora.me

Inovação com alma, com propósito — e com um pouquinho de slime na mesa de reunião.

Foto de Meline Lopes

Meline Lopes

Jornalista, advogada, especialista em comunicação e em marketing digital. Atuou como repórter de televisão durante 9 anos em diversas emissoras do Brasil. É repórter do Eufêmea.
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