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Entre o cuidado e o limite: quando o profissional de saúde mental também sofre

Foto: Freepik

Na semana passada, recebi uma notícia que me chocou, assim como chocou muitos colegas: a partida de Silvana Paula. Silvana foi uma referência para mim e para muitos: professora dedicada, profissional incrível, uma das melhores que tive na graduação e, atualmente, também colega de trabalho na atenção psicossocial.

Não quero fazer especulações. O que quero compartilhar é como essa notícia me atravessou e o que ela reverberou em mim, dentro da minha trajetória e da minha experiência lidando com sofrimento, limites e cuidado.

Para isso, preciso voltar à minha formação. Lembro de ouvir, em determinada aula de um professor do curso de Psicologia, que é necessário suspender nossas dores e julgamentos morais para que o que fique em evidência seja quem precisa estar em evidência naquele momento: o usuário, o paciente, o cliente. Acredito que muitos colegas já ouviram algo parecido.

Muitas vezes, isso significa estar presente mesmo enquanto sentimos que estamos “sangrando por dentro”. Estive em momentos assim: atendendo, tentando manter foco e presença enquanto, dentro de mim, havia tristeza, cansaço e dúvidas. É uma linha tênue, que nunca me pareceu clara ou fácil.

Refletindo sobre isso, me pergunto: qual o limite dessa suspensão? Até que ponto conseguimos sustentar esse lugar de cuidado sem nos perder? Até que ponto nossas próprias dores, pressões e limites podem ser reconhecidos e respeitados? Até que ponto isso não será lido como uma falha do profissional? Não tenho respostas prontas, mas percebo que essa tensão está presente, silenciosa, em muitos profissionais que lidam com sofrimento diariamente.

É cobrado de nós, e pelo todo, que estejamos sempre bem. Afinal, somos profissionais da saúde mental. Mas quando é que podemos ser humanos? Quando nos é permitido cair também?

Foto de Adelayde França

Adelayde França

Psicóloga, feminista e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Sou uma mulher em constante movimento, sempre em busca de autodescobertas e novas reflexões. Aqui, vou compartilhar minhas vivências no SUS e jornada pessoal. CRP: 15/5833
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