Um texto sobre o peso de ser tudo o tempo inteiro e a coragem de, às vezes, apenas ser. Nos últimos tempos, tenho pensado muito sobre como ser mulher virou sinônimo de malabarismo. É acordar cedo, correr para trabalhar, dar conta da casa, tentar ser presente com os filhos, estudar, se cuidar e ainda sorrir. Porque, se a gente reclama, é ingrata. Se desaba, é fraca.
Ser mulher é quase sempre andar na corda bamba entre o “você é demais” e o “você não fez o suficiente”. Se é só mãe, é desleixada. Se é esposa dedicada, é fútil. Se trabalha demais, está invertendo papéis. Se cansa, ouve: “mas não foi você que quis isso?”.
A verdade é que não existe caminho certo quando o mapa foi desenhado para nos culpar de todos os lados. A maternidade, o trabalho e o amor se misturam de um jeito que ninguém ensina como equilibrar. E a gente segue, exausta, mas firme, tentando não deixar nada cair.
Eu tenho falhado. Com planos, com prazos, comigo mesma. Mas descobri que falhar pode ser libertador. Admitir o cansaço é um ato político. Porque existe coragem em dizer “eu não dou conta de tudo”. E sinceridade em reconhecer que, às vezes, só queremos ser vistas, não como guerreiras, mas como humanas.
Ser mãe é bonito, mas também é pesado. É estar presente e ausente ao mesmo tempo. É sentir culpa por trabalhar e culpa por não trabalhar. É tentar se dividir em mil, enquanto o mundo finge que a gente tem quatro braços.
Quando uma mulher vence, ela não chega sozinha. Carrega o esforço de tantas outras que não puderam estar ali. Cada conquista feminina é coletiva. É a prova de que, mesmo cansadas, seguimos abrindo brechas em um sistema que insiste em nos exaurir.
O amor, no fim das contas, é o que nos mantém de pé. Não o amor romântico, mas o amor como prática política. O amor por nós mesmas, pelas outras, pelas que vieram antes e pelas que ainda virão. Amar-se é resistir a um mundo que espera que a gente seja incansável.
Entre o fardo e o farol, sigo tentando escolher ser luz, mesmo quando tudo parece pesado demais.