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A jornalista Lenilda Luna registrou dois boletins de ocorrência na Delegacia Geral da Polícia Civil nesta terça-feira (25) para denunciar violência política de gênero praticada por um advogado e por outro integrante de um grupo de WhatsApp no último sábado. Ela esteve na sede da delegacia ao lado de movimentos organizados de mulheres em Maceió e do advogado Marcos Rolemberg.
Em um vídeo publicado em seu Instagram, Lenilda explicou que os boletins foram feitos para pedir a investigação dos crimes de injúria e ameaça cometidos em um grupo de WhatsApp com mais de 600 participantes.
“A gente precisa, dentro da sociedade, refletir que as colocações de ofensas e de ameaças, principalmente contra mulheres em espaços públicos, não podem ser aceitas como normal. Não são, e as pessoas precisam ser responsabilizadas”, disse.
Os casos
As ofensas foram feitas em um grupo de WhatsApp chamado Painel Alagoas, conhecido por reunir debates políticos entre pessoas com diferentes posicionamentos ideológicos.
Segundo o boletim de ocorrência, o debate avançava sobre a prisão de Bolsonaro, com troca de comentários, notícias, figurinhas e memes, até que, após ela enviar uma figurinha, o advogado Júlio Afonso de Freitas Melro Nascimento publicou o comentário. “As putinhas da esquerda estão ouriçadas hoje. É a única satisfação que têm, até porque ninguém quer comer esses troços.”
Após ler a ofensiva, Lenilda disse ter exigido um posicionamento do moderador do grupo, já que outro integrante, identificado apenas como Bekman, sentiu-se encorajado pela mensagem e escreveu. “Atear fogo nos esquerdopatas, nos comunistas e nos socialistas. Fogo nestes parasitoides.”
Ela afirma que a escalada de violência no debate demonstra como discursos de ódio podem ultrapassar os limites da injúria e estimular comportamentos agressivos, algo incompatível com um país democrático.
Além da Polícia, o Sindicato dos Jornalistas de Alagoas (Sindjornal) também protocolou uma representação na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) pedindo a “instauração de processo ético-disciplinar” contra o advogado Júlio Afonso.
“Entre as expressões utilizadas, destacam-se ataques que atingem frontalmente a honra, a dignidade, a integridade moral e a competência profissional da jornalista, ultrapassando os limites da liberdade de expressão e configurando violência política e de gênero, com o objetivo explícito de desqualificar e intimidar mulheres que atuam no campo democrático e popular.”
A Eufêmea procurou a OAB-AL, que informou que não comenta casos ocorridos na esfera privada e fora do exercício da profissão.
A reportagem também entrou em contato com o advogado Júlio Afonso. Ele disse que fez uma retratação formal no grupo e que, no momento, não gostaria de se posicionar.