Elas são irmãs e gêmeas, mas têm algo mais em comum: a profissão. Taciana e Tatiana são agrônomas; Ana e Adriana são odontólogas. O único ponto que as separa é a distância pelas cidades onde moram e trabalham, mas ainda assim conversam todos os dias e se ajudam mutuamente. É no amor que as irmãs se fortalecem para manter o elo que as uniu desde que foram geradas. Ao Eufemea, elas falaram sobre a decisão de seguirem as mesmas carreiras profissionais, lembraram da infância e como se mantêm sempre unidas.
Taciana de Lima Salvador e Tatiana têm 36 anos e são formadas em Agronomia pela Ufal (Universidade Federal de Alagoas). Elas contaram suas histórias.
Taciana é casada, não tem filhos e tem outras duas irmãs mais velhas, além da irmã gêmea. Elas são as caçulas da família. Ela é agrônoma da Emater (Instituto de Inovação para o Desenvolvimento Rural Sustentável de Alagoas), e concluiu o ensino superior há 12 anos.
“Sempre tivemos uma infância onde todos os domingos nossos passeios eram visitas ao meu avô, no sítio. Às vezes passávamos o fim de semana lá. Casa humilde, luz a lamparina”, lembrou.
Ao falar sobre a escolha da profissão ela diz que sempre gostou do campo. “Me faz muito bem. Mas, meu primeiro vestibular foi para Nutrição, mesmo o coração pensando na Agronomia. Só que não fui aprovada. Então, pedi uma luz a Deus, que se fosse da vontade Dele, se eu fosse ser feliz como agrônoma, me desse um sinal”.
“Muitas pessoas próximas só falavam em Medicina, Enfermagem, Nutrição, área da saúde. Acho que isso que me causou a dúvida em decidir, mas o coração gostava da área rural”, conta Taciana.
Ela diz que o sinal que esperava para decidir veio num momento na igreja católica que frequentavam. “Em um momento de oração, onde havia cadeiras em círculos, cada um escolhia um local pra sentar, aleatório, onde havia, em cada cadeira, um cartãozinho postal. Justamente o local que eu escolho, o cartão postal era uma foto de uma fazenda linda. Com alguns gados no pasto, árvores…. Pensei: esta é a resposta que Deus me enviou. Vou prestar vestibular para agronomia”.
Decisão de irmãs
“Não imaginávamos em seguir a mesma profissão. Ela (Tatiana) tentou Educação Física por alguns anos, e, quando ela me viu feliz no curso em que escolhi, ela resolveu arriscar. Nossa formação foi na Ufal (graduação, mestrado e doutorado). Não cursamos juntas pois ela entrou 6 semestres depois que eu”.
Apesar da união e de seguirem a mesma profissão, Taciana revela que nunca trabalharam juntas. “Mas sempre nos ajudamos. Durante mestrado e doutorado, em semestres diferentes, mas sempre no mesmo ambiente, uma ajudava a outra nas pesquisas e experimentos. Pagamos algumas disciplinas juntas”.
Motivo de orgulho
Quanto a ser irmã gêmea, ela assegura que é só amor em tudo o que fazem. “Nós amamos ser gêmeas. As pessoas nos confundem demais. E isso não nos incomoda. Achamos engraçado e gostamos! Por sermos da mesma área, temos muitos amigos em comum. Ter uma irmã gêmea, que seguiu a mesma profissão, é um orgulho imenso pra mim. Me traz conforto saber que posso contar com ela, tirar uma dúvida, discutir sobre um determinado assunto, pedir opinião sobre tudo relacionado à área”.
Taciana de Lima, agrônoma
“Me sinto muito segura com ela ao meu lado. Iniciar a graduação em Agronomia sem ela foi muito difícil pra mim no início (pois sempre estudamos juntas), mas hoje eu sei que foi necessário para nosso amadurecimento. Os planos de Deus são perfeitos! Nossa troca de informações sobre a profissão é diária. Sempre, sempre. Por ligação, WhatsApp, presenciais. Mas é sempre”.
Uma no Agreste, outra no Sertão
Tatiana de Lima Salvador é formada há dez anos pela Ufal, é casada e tem um filho de um ano e dez meses. Atualmente é agrônoma do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) e também falou da ligação com a irmã.
Do campo, onde estava trabalhando no momento em que falou com o Eufemea, ela afirmou: “Como somos muito ligadas, a profissão nos uniu e ao mesmo tempo a atuação na área fez a distância nos separar. Nos vemos muito pouco. Eu estou no Sertão, e ela, no Agreste”.
“Na verdade, a escolha pela Agronomia foi consequência. Eu tentava vestibulares anteriores, três anos consecutivos, Educação Física, e através do teste vocacional me fez gostar dessa área. Não consegui passar, então a minha irmã Taciana, justamente nesse período, entrou no curso de Agronomia e sempre quando tinha aula prática, algum evento, me chamava pra ir com ela, porque como somos gêmeas nós sempre fomos muito ligadas. A gente escolheu áreas diferentes, a princípio, e mesmo eu tentando Educação Física, meu envolvimento na Agronomia foi por conta dela, pela ligação que temos. Passei a gostar muito da Agronomia”.
Tatiana de Lima, agrônoma
“Caminhando juntas”
Tati, como é chamada pela irmã, diz ainda que sempre trabalharam com assistência técnica e prestando serviço para assentamentos rurais. “Depois voltei para fazer mestrado e quando terminei fui trabalhar com área de pesquisa, em laboratório em Recife. Voltei para a assistência técnica e depois passei no doutorado, concluí no início desse ano e comecei a trabalhar com assistência técnica gerencial pelo Senar”.
Dos produtores que ela atende, 80% são mulheres. “Dou assistência técnica na área de olericultura. As mulheres do campo possuem uma força imensurável. São mulheres guerreiras, donas de casa, mães, mas que sabem dividir seu tempo para cuidar da horta, que é dedicação diária”, conta.
As irmãs, são só gratidão ao professor que as orientou e acompanhou todo o processo acadêmico das duas. “Durante o período de universidade, na graduação, mestrado e doutorado, nosso professor orientador foi sempre o mesmo. O professor doutor Eurico Lemos sempre nos auxiliou nos trabalhos da vida acadêmica com êxito. Foi um amigo que a universidade nos presenteou. Nas atividades de campo, laboratório e nos eventos, sempre nos apoiou diante às escolhas. Nossa caminhada se tornou mais leve porque tivemos sempre um orientador amigo. Somos muito gratas a ele pela caminhada que nos proporcionou grandes conquistas”, afirma Tatiana.
Ao falar sobre seu amor pela irmã, ela diz: “Sempre amei ser gêmea, sempre gostei de me vestir igual à minha irmã. Até hoje, já cada uma na sua casa, com sua família, quando compro uma roupa eu lembro da minha irmã, compro igual, só muda a cor. A gente sempre tem essa ligação. Então, costuma atrair curiosidade. Sempre que eu passo, por onde eu vou, tenho o maior orgulho, prazer em dizer que tenho irmã gêmea, mostro foto dela.
“Tenho muito prazer em dizer que ela é da mesma área, que ela também é doutora em Agronomia, que a gente tem a mesma profissão, que a gente se ajuda. Tenho muito orgulho de ser gêmea e mais ainda por nós estarmos caminhando juntas. Para mim essa é uma satisfação muito grande”.
Ela diz que sempre trocam informações, compartilham dúvidas e resultados. “A gente tá interligada, ela trabalha na Emater e eu no Senar, mas de qualquer forma a nossa ação dentro das propriedades é similar. O Senar tem essa parte gerencial, mas também de assistência técnica. Já a Emater é mais a assistência técnica voltada a outros projetos, mas se interligam. Então a gente troca muita informação. Ter uma irmã gêmea que segue a mesma profissão é você saber que vai ter para sempre uma companheira de trabalho, para tudo”.
“Morar longe, é a parte mais difícil”
As odontólogas Ana Barros Duarte Oliynik e Adriana Barros Duarte Baade têm 40 anos e moram em estados diferentes, mas nem a distância apaga a ligação que as mantém firmes e fortes no amor uma pela outra.
Adriana conta que mora em Pelotas (RS) há 6 anos e meio, é casada e não tem filhos, trabalha em três clínicas, na área de ortodontia.
“Ter minha irmã na mesma profissão é ótimo, porque trocamos várias ideias. Ela faz a parte de estética e eu de ortodontia, então sempre trocamos experiências”.
Segundo ela, não houve nenhuma influência da família na decisão de seguirem a mesma carreira. “Temos dentistas sim na família, porém não tínhamos muito contato com eles. Sempre tentamos algo na área da saúde, isso a gente sempre quis. Tentamos Medicina no início, porém achamos Odontologia algo mais interessante”.
“Morar longe da minha irmã é a parte mais difícil porque somos muito próximas, temos muita coisa em comum, mas matamos a saudade sempre nos falando, todos os dias. Conversamos mais que uma hora quase todos os dias! Sempre trocamos ideias dos nossos casos, ela tira dúvidas quando aparecem e vice-versa”.
Adriana Barros, odontóloga
Separação e vida própria
Ana Barros tem 13 anos de formada pela Ufal, é casada, não tem filhos, tem outros dois irmãos mais velhos, um é arquiteto e outro advogado. Ela e a irmã Adriana ingressaram no mesmo curso com um ano de diferença uma para a outra.
“Eu e a Adriana, acredito que ela também, nenhuma das duas tinha esse sonho de fazer Odontologia, não. Foi meio inesperado. A gente sempre teve vontade de fazer Medicina e aí uma vez a gente estudando no cursinho, tinha uma psicólogo para fazer teste vocacional, nós fizemos e ela falou sobre as outras profissões na área de saúde e a gente ficou meio balançada pela Odontologia e o meu irmão mais velho tinha sugerido: por que vocês não trocam para Odontologia. Vai que vocês gostam. Mas foi uma sugestão assim uma vez só, nada de insistência. Aí a gente, como já tinha feito dois ou três pra Medicina, viu a possibilidade de fazer Odontologia. Eu passei primeiro e a Adriana passou no outro ano”, conta.
Ana Barros, odontóloga
Ela diz ainda que sempre foram muito unidas. “A gente sempre foi muito unida. Sempre estudou no colégio juntas, estudava na mesma sala, uma do lado da outra, sempre estudou muito, achava que ia fazer Medicina, mas nunca comentava sobre detalhes da profissão, como seria a gente formada. Acho que isso tudo veio depois que a gente passou na faculdade e aí a gente comentava mais sobre a profissão, a especialidade que cada uma queria”.
A separação das irmãs, revela Ana, foi quando ela passou na Ufal e Adriana não passou. Até aí, ela diz, até na padaria iam juntas.
“Só que eu acho que essa foi uma das melhores coisas que aconteceu na vida da gente. A separação foi dolorosa? Foi, bastante! A gente era acostumada muito a estar juntas, as mesmas amizades, tudo. E essa separação veio para cada uma ter o seu vínculo de amizade, ter a sua própria vida. Ser tratada como a Ana e a Adriana, e não as gêmeas, como o povo sempre comentava. Como se fossem uma só. Isso foi doloroso, mas foi fundamental”.
Formadas, Ana conta ainda que não chegaram a dividir consultório. “Já trabalhamos na mesma clínica, mas não nos encontramos porque eram horários diferentes. Era a mesma rede, mas eu trabalhava na Ponta Verde e ela no Farol”.
Para ela, ter a irmã na mesma profissão é muito importante. “É a pessoa com quem mais converso da minha área. A gente debate muito os casos, tudo. Somos de especialidades diferentes, mas as duas áreas caminham juntas. Ela sempre manda os casos dela e eu os meus. É bem tranquilo de conversar”.
E mesmo distante, há seis anos, logo após o casamento de Adriana, cujo marido é de Pelotas, Ana conta que a mudança foi apenas o contato físico. “A gente conversa quase todos os dias, por uma hora ou mais. Às vezes, quando eu não ligo, o marido dela diz: ‘Cadê a sua irmã, não ligou hoje não?’. Geralmente a gente conversa sempre troca muitas informações sobre tudo. E aí o ruim é só essa distância. A internet deixa mais próximas as pessoas. Facilita”.