Incerteza, é o que vive o mercado econômico para 2021 e, por tabela, o trabalhador brasileiro. A pandemia do novo coronavírus afetou diretamente diversas áreas, entre as quais a economia, onde os impactos são de curto, longo e médio prazos. E o que esperar do ano que se aproxima? Quem responde é a cientista política Luciana Santana, segundo a qual, com o fim do auxílio-emergencial e do socorro financeiro pelo governo federal a estados e municípios, as perspectivas ainda são bastante incertas.
Mas o impacto já é sentido nos preços dos alimentos, que seguem numa escala crescente de aumento, ‘sufocando’ o consumidor, principalmente as populações mais vulneráveis.
“Sem recursos financeiros disponíveis para as populações vulneráveis, sem recursos para os governos estaduais e municipais, os pobres, que se encontram em situação mais vulnerável, acabam sendo os mais penalizados caso não haja novas medidas de proteção”, afirma Luciana.
Situação que ainda não foi tão sentida, como ela afirma, porque os benefícios estão em vigor.
Daí porque, segundo Luciana Santana, “alguns grupos sociais ainda se encontram em situação de recuperação, especialmente aqueles autônomos e que não se encaixaram nos requisitos do governo para receber o auxílio emergencial, mas uma parte considerável das populações vulneráveis foi atendida. Mas a gente sabe que o auxílio emergencial acaba agora em dezembro. Então, há uma tendência clara de que a economia possa sofrer algum abalo a partir do próximo ano”.
O mesmo, destaca a cientista política, devem sentir os gestores assim que assumirem o mandato a partir de 2021. “Eles também não vão encontrar uma situação muito tranquila, já que não se sabe exatamente se haverá possibilidade de aprovação de novos recursos. O ano legislativo começa só a partir de fevereiro, fora que a gente tem mudança na Mesa Diretora, então pode ser que essa situação não seja resolvida no curto prazo, e aí as perspectivas ainda são bastante incertas com relação à economia”.
Sem auxílio e com aumento de preços
No entanto, a profissional diz que isso não significa que a economia estagnou. “Ela ganhou um aquecimento, sobrevida por causa desses recursos que foram injetados. Hoje, há uma situação de movimentação econômica, mas um estado de alerta que precisa ainda ser acompanhando”.
E lembra que com escassez de muitos produtos, problemas em vários setores, há uma elevação de preços, tendo em vista que empresários e comerciantes estão tentando recuperar prejuízos que tiveram no início, especialmente nos primeiros meses da pandemia.
As consequências do fim do auxílio-emergencial, alerta a cientista política, “é o desaquecimento da economia. E aí sim, a gente pode falar numa situação de maior gravidade econômica e num alerta mais acentuado. O poder de compra das pessoas com certeza vai reduzir drasticamente, as pessoas vão começar a reivindicar, especialmente porque esse recurso não é para esbanjar. É pra sobrevivência. Então vai começar a pesar sobre o padrão de vida dessas pessoas. Se elas não tiverem o mínimo para sobreviver, se o Estado não der nenhuma proteção, se não houver uma oferta maior de empregos no país, a tendência é que a gente tenha uma crise política bastante acentuada”.
Quanto ao estado de letargia que parece afetar o brasileiro, Luciana Santa considera que isso ocorre pelo momento que o mundo enfrenta.
“Eu diria que essa desmotivação tem vários aspectos: a pandemia é o principal e o segundo, a própria falta de alternativas de como reagir a um governo extremamente inoperante, que não realiza de fato as suas atribuições, não dá o mínimo à população, que é uma qualidade de vida adequada, de serviços adequados, de orientações. Pelo contrário, o que a gente tem é o negacionismo exacerbado. O anticientificismo, uma falta de planejamento, de interação com outros entes federados para dar à população uma vida mais digna”, conclui.