Uma profissão até bem pouco tempo predominantemente masculina, está atraindo cada vez mais mulheres que se destacam no mercado e conquistam a clientela. São as tatuadoras, que precisaram vencer o preconceito para se firmar na área antes dominada pelos homens. Elas ocupam cada vez mais espaço no mercado e se destacam, como é o caso da pernambucana da cidade de Garanhuns, Gleyce Lima, 33 anos, tatuadora profissional com trabalho reconhecido pela delicadeza e perfeição dos traços.
Gleyce, que hoje mora em Maceió (AL), conversou com o Eufemea, a quem contou os caminhos que precisou percorrer para se firmar na área, do amor pelo que faz e do preconceito que ainda enfrenta.
No passado, foi no pai que ela encontrou resistência, hoje superada. “Por parte do meu pai, houve uma grande resistência. Não o culpo, é um homem simples, de origem humilde que viveu outros tempos. Já o restante da minha família, mãe, irmãs e irmãos, foram cruciais, disponibilizaram-se para que eu fizesse minhas primeiras tatuagens e para que eu permanecesse convicta que realmente era meu destino me tornar uma tatuadora. Acredito que hoje, além de meu filho e marido, sejam meus maiores apoiadores”, diz Gleyce.
Qualificação
Apesar das barreiras, ela considera que o mercado da tatuagem já não é predominantemente dominado pelos homens.
E para as mulheres que desejam se firmar na profissão, ela orienta buscar qualificação. “O melhor conselho que eu posso dar para uma mulher, que almeja ser tatuadora ou não, é que ela sempre busque o caminho do conhecimento, que se especialize, que busque evolução, sem atalhos, sem facilidades. Com toda certeza nosso caminho é mais difícil e não traz margens para erro, então nós mulheres, infelizmente, ainda temos a injustiça batendo à porta todos os dias. Combatemos isso com eficácia, profissionalismo, ética e muito esforço”, orienta a profissional.
Trajetória
Foi justamente na qualificação que Gleyce se apegou para levar adiante o sonho de ser tatuadora. “Divido minha carreira como tatuadora em duas fases. A primeira me levou 3 anos de estudos e tudo que envolvia a tatuagem não só artisticamente como desenho, maquinário e técnica, mas questões como biossegurança, atendimento ao cliente e administração”.
A segunda fase, diz Gleyce, foi realmente como tatuadora, “onde trabalhei no estúdio Maceió Tattoo por mais 4 anos, onde ganhei grande experiência no mercado e numa visão além de artística, empreendedora da tatuagem, o que me levou há um ano ser sócia-proprietária do meu próprio estúdio, o Leste-Oeste Tattoo Studio”.
Mas o início de tudo, ela lembra que surgiu a partir do apoio do marido, o também tatuador Rommenigge Gama. “Ele não só me ensinou e ensina, como me incentiva até os dias de hoje. Meu marido é minha inspiração desde o início, além de outros amigos que também conheci dentro do universo da tatuagem”.
Atualmente ela é sócia-proprietária do Leste-Oeste Tattoo Studio, que tem em torno de um ano, como conta. “Ele é localizado no bairro da Mangabeiras, e é composto por uma equipe incrível de outros 6 profissionais, 4 tatuadores, um piercer, um auxiliar”.
Desmistificando a arte
E se num passado próximo fazer tatuagem – arte que existe há milhares de anos – era um estereótipo de tudo o que a opinião pública conservadora reprovava, hoje a arte de marcar a pele atrai cada vez mais pessoas.
“Com a desmistificação da tatuagem moderna, o público tem aumentado consideravelmente. Como tatuadora mulher tenho plena convicção que o meu público é em grande parte feminino, mas isso não é uma regra. Acredito hoje que mulheres se tatuem mais, desenhos menores, minimalistas em muitos casos, faz com que tenhamos uma quantidade maior de mulheres tatuadas que homens, que a grosso modo, por sua vez, buscam tatuagens maiores, mas isso é um ponto de vista muito superficial já que a tatuagem é livre de estereótipos, gêneros ou um limite artístico”, diz Gleyce.
As tatuagens, ela conta, variam muito. “Nós contamos como tatuagem não apenas agulha, tinta e pele, mas sim todo o processo, que vai da criação de uma arte no papel ou digitalmente, os ajustes feitos, toda a conversa que é necessária”.
O processo, Gleyce diz que “pode levar em torno de uma hora. Existem tatuagens maiores onde suas sessões levam 8 horas, 10 horas. Tudo vai de cada cliente e tatuagem isoladamente, não há padrões, todo cliente, trabalho (tatuagem/processo) leva o tempo necessário pra que as ideias sejam alinhadas e tenhamos um ótimo resultado”.
A profissional finaliza falando sobre o trabalho que mais lhe marcou. “Houve um caso, a que mais me marcou, uma tatuagem de um ipê, a árvore amarela, onde as cinzas da irmã da cliente haviam sido enterradas. A irmã costumava ler abaixo dessa árvore, e sempre tinha a ideia de tatuar uma fênix, então a cliente resolveu tatuar o ipê amarelo com a imagem de uma garota lendo em sua sombra, juntamente de uma fênix, simbolizando o renascimento da irmã junto ao ipê. Essa, com certeza, foi uma das tatuagens mais importantes que já fiz”.