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Covid-19: enfermeira descreve relatos de medo e fragilidade de pacientes em unidade de saúde

Medo, é o sentimento descrito pelos pacientes que procuram as unidades de saúde em busca de atendimento para saber se foram infectados ou não pelo coronavírus. É uma espécie de batalha que se trava a partir da busca pelo serviço, à confirmação e tratamento. Daí, toda a atenção é necessária para amenizar a angústia e passar confiança a quem se vê frente a frente com o temido vírus.  

Thayse Ramos trabalha como enfermeira gerencial da Unidade de Referência para Síndrome Gripal Maria Conceição Fonseca Paranhos, em Jacarecica, aberta em junho com a finalidade de atender à população com suspeita ou diagnóstico do novo coronavírus. Ela relata a situação emocional em que chegam os pacientes e o dia a dia dos profissionais de saúde que voltaram a enfrentar uma rotina de muito trabalho com o aumento dos casos de Covid-19 no Brasil e em Alagoas.  

“O relato inicial dos pacientes que procuram a unidade é o medo da doença, já que a maioria conhece alguém que adoeceu e evoluiu gravemente. E mesmo não conhecendo, tem acesso às informações de morte que são veiculadas pelos meios de comunicação”.

Ela diz que informação faz toda a diferença. “Tentamos passar o máximo de informações válidas para que ele se cuide e seja propagador de conhecimento. Reforçamos o uso de máscara, o distanciamento social e lavagem das mãos, que são medidas simples, mas fundamentais no combate ao vírus”, pontua. 

Passo a passo do atendimento 

O fluxo de atendimento, Thayse informa que “foi desenhado pela Secretaria Municipal de Saúde com base na humanização desse paciente que já chega na unidade fragilizado, com medo, e, muitas vezes, em situação de vulnerabilidade. Então existe um agente de humanização na porta do serviço, que é um técnico de enfermagem, acolhendo esse paciente, investigando os sinais e sintomas que ele apresenta e dando as primeiras orientações. Após esse primeiro contato, o paciente é direcionado à recepção, onde fará seu prontuário”, ela diz. 

O passo seguinte na quase sempre angustiante busca por saber se contraiu o vírus, é o preenchimento do prontuário e daí, ressalta Thayse, “o volante, que também é um técnico de enfermagem, direciona-o à triagem e consulta de enfermagem. Nesse momento são verificados os sinais vitais com outro técnico de enfermagem e realizada a consulta de enfermagem com um enfermeiro”.  

“Nessa consulta é verificada a necessidade de solicitar, com base em protocolos, o exame de RT-PCR para Covid-19, que é realizado entre o 3º e 7º dia de sintoma e é colhido na própria unidade. Em seguida, esse paciente é direcionado à consulta médica e, caso necessário, serão solicitados exames laboratoriais, colhidos na própria unidade; exames de imagem (que podem ser feitos no Hospital Sanatório, onde a SMS tem parceria, ou no PAM Salgadinho), além de prescrição medicamentosa, onde o paciente sai da unidade com os medicamentos que fazem parte do protocolo do Ministério da Saúde para Covid-19″. 

A unidade, como conta a enfermeira, também dispõe de uma sala de observação para estabilização de parâmetros vitais alterados. “No entanto, também seguindo protocolos, o paciente é transferido para alguma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) quando algum desses parâmetros não retornam ao seu valor fisiológico e em suspeita ou confirmação de Covid-19 o paciente é transferido para algum leito clínico hospitalar”. 

Unidade de referência  

Em Maceió, Thayse informa que existem quatro unidades de referência em síndrome gripal, mas a que ela trabalha foi considerada a melhor em atendimento, pelo número de elogios que chegou na Ouvidoria da SMS. 

“Focamos muito no atendimento ao usuário, independente de quem seja, já que é uma doença nova e que causa angústia e sofrimento. Isso tudo acontece graças aos funcionários que dispomos na unidade a cada turno de trabalho: três enfermeiros (dois assistenciais e uma gerencial), cinco técnicos de enfermagem, dois farmacêuticos e dois assistentes de farmácia, que orientam quanto à medicação, três técnicas de laboratório, dois médicos, quatro assistentes administrativos, quatro funcionários de serviços gerais, um gerente da unidade e um apoio à gerência. Todos empenhados em prestar um bom serviço à população alagoana. A escala de trabalho é de 12X36h”, conta Thayse Ramos. 

Lidando com o risco

Mas e a profissional, como se sente lidando diariamente com o risco? Ela diz: “O sentimento ao trabalhar em meio à pandemia, muitas vezes, é de angústia quando vejo o sofrimento de muitas pessoas. A incerteza que esse vírus traz e como ele reage em cada indivíduo é assustadora para quem recebe um diagnóstico positivo”. 

“No entanto, me sinto útil em saber que estou ajudando a população, amenizando um pouco do sofrimento e prestando o cuidado que cada pessoa merece, seja na assistência de enfermagem direta ou na organização dessa assistência, já que estou como enfermeira gerencial na unidade. Entretanto, a vida pessoal acaba sendo afetada, pois meus pais já são idosos, então, eu tenho receio de visitá-los ou que os mesmos venham me visitar, já que moram no interior”.