Danças com caráter mais sensual, o twerk e o pole dance ainda são vistas com preconceito por uma parte da sociedade brasileira. Porém, tanto quem ensina quanto quem pratica busca desconstruir esse estigma e mostrar que o que falta mesmo é informação. O Eufemea conversou com as irmãs Gabriella Buarque, 24 anos, professora de pole dance e arquiteta e Nanna Buarque, 22 anos, que ensina twerk, e traz o olhar de quem entende que a dança faz bem não apenas ao corpo, mas à mente.
“Talvez por ser uma atividade que envolve muito ganho de força e movimentos acrobáticos, algumas modalidades de pole dance são mais “bem aceitas” que outras danças. Acredito que a melhor forma de desconstruir preconceitos é informando. A modalidade ainda é incomum no nosso país, especialmente aqui em Alagoas, então para desconstruir esse preconceito é preciso primeiro apresentar a modalidade e “normalizá-la”, à medida que mais pessoas passam a praticar”, diz Gabriella.
Ela conta que a atividade física sempre fez parte de sua vida. “Pratiquei ginástica rítmica e karatê por muitos anos, o que facilitou minha jornada no pole. Iniciei minha capacitação como instrutora de pole dance há dois anos, participei de diversos cursos de formação e workshops. Passei a ministrar aulas profissionalmente há 7 meses, com a flexibilização da quarentena”, revela.
Empoderamento e benefícios
Apesar de ter como foco principal as mulheres, o empoderamento e fortalecimento do elo entre elas, as turmas são abertas para todos que desejem praticar as modalidades e estejam dispostos a aprender e se permitir, como informa Gabriella.
O pole dance é uma modalidade de dança e esporte que usa como instrumento uma barra vertical, como conta Gabriella.
Os benefícios, ela informa, “além do exercício físico que trabalha força, flexibilidade, mobilidade e consciência corporal, a dança é um forte instrumento para trabalhar a autoestima, a autoconfiança e uma ótima oportunidade de socializar. Nossas alunas veem as aulas como uma válvula de escape da rotina de trabalhos e estudos, e muitas buscam uma atividade física que seja mais lúdica e fora do convencional”, diz Gabriela.
Liberdade sobre o corpo
Nanna Buarque conta que cresceu dançando funk, daí a identificação com o twerk foi quase automática quando teve contato com o estilo. “Comecei a praticar essa dança por volta de 2014 e, em 2018, abri minha primeira turma formal para aulas de twerk”, diz.
Ela reconhece que ainda há muito preconceito em relação à dança, pela própria origem do estilo, “surgido por volta dos anos 80 dentro da comunidade afro-estadunidense, no cenário da bounce music, que é principalmente caracterizado pelos fortes e criativos movimentos de bumbum, corporal de hip hop e até aplicação de algumas técnicas de break dance para aumentar o efeito das performances”, descreve.
Um outro fator que ainda pesa, como ressalta Nanna, “é o conservadorismo cristão em relação a diversas expressões corporais, principalmente aquelas que trabalham, de alguma forma, a sensualidade. Por fim, falar sobre liberdade sexual feminina tornou-se comum, mas respeitar isso socialmente ainda é um tabu”.
Desconstruindo preconceito
Na opinião da professora, desconstruir o preconceito faz parte de um processo. “Toda visão de mundo só é desconstruída a partir de uma mudança processual. Durante muito tempo bati de frente e rebati diversos comentários preconceituosos, acreditando que a afronta era a melhor forma de quebrar esse paradigma. Hoje, no entanto, vejo que não é assim que funciona”.
Para ela, “a pessoa que é preconceituosa o é porque não consegue reconhecer sua total responsabilidade sobre seus próprios pensamentos, de forma que tenta jogar sobre o outro (seu “objeto” de preconceito), a culpa por todo o seu lixo e sujeira mental. Então dar voz a essas pessoas nunca será a solução”, avalia.
Mesmo não sendo uma dança exclusivamente para mulheres, são elas quem mais procuram a escola. “Nosso trabalho é voltado para o fortalecimento do empoderamento feminino de forma geral, independente do aluno ser homem ou mulher. Buscamos resgatar o poder e magnetismo relacionados à nossa energia feminina, que há tanto tempo vem sendo suprimida”, diz Nanna, que é diretora e professora do Espaço de Dança Casa Ello, que coordena juntamente com a irmã Gabriela. “Também trabalho em parceria com o Espaço de Dança Italo Miguel que, inclusive, foi onde comecei a dar aulas de twerk em 2018”.
As alunas que procuram a dança têm objetivos individuais, mas que acabam convergindo entre si, como informa a professora.
“Umas querem um exercício físico semanal, outras buscam uma válvula de escape. Umas querem aprender a técnica daquele estilo de dança para poder dançar onde quiser, outras buscam encontrarem-se e sentirem-se mais confiantes consigo mesmas. No fim, todas acabam ganhando tudo isso e, de bônus, encontram uma linda comunidade de mulheres que está ali para fortalecer o caminho delas!”.
Senhora de si
E os benefícios são muitos. “A dança é uma terapia integral. Além de melhorar a mobilidade, fortalecimento muscular, alongamento e flexibilidade no geral, liberar dopamina e endorfina no organismo, auxiliar a fortalecer laços entre muitas mulheres que identificam-se em suas lutas, paixões e determinações”.